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6 - 8 minutes readInimigos dos Xenites Brasileiros

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                                                         Por Robson Cardoso dos Santos

 

 

 

 

 

Nós do fandom brasileiro temos de engolir alguns sapos  ao longo de nosso caminho de adoração a XWP. Alguns dos sapos mais gordos insistem em nos indignar, entalados na goela…

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“Beijo lésbico não pode!”

Rede Record

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Record de barbaridades.

A Rede Record de Televisão é uma rede de televisão aberta do Brasil fundada por Paulo Machado de Carvalho, em 1953, sendo a mais antiga emissora de TV em atividade do país. No final da década de 80, a emissora, que antes pertencia ao Grupo Silvio Santos, foi vendida ao empresário Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus.

Sua sede está localizada no bairro da Barra Funda, na cidade de São Paulo. Possui um núcleo de teledramaturgia sediado no bairro de Vargem Grande, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, conhecido como RecNov. (Wikipedia).

Por ser atualmente a emissora de um Bispo, a Record tem sua grade voltada a muitos programas religiosos. Programas de pregação, adoração a Deus e exorcismos (!). Claro que isso não é empecilho para a exibição de novelas fantasiosas e cheias de cenas apimentadas, nem de noticiários sensacionalistas. O problema estava mesmo em Xena. Vamos cortar então o beijo lésbico e as cenas de sangueira, pensaram eles, porque isso não faz bem pra cabeça dos nossos telespectadores, eles podem virar gays ou serial-killers. E assim as novelas de sacanagem e libidinagem podem correr soltas, e imbecilidades chupadas de séries americanas como Heroes ocupam o horário nobre desta não tão nobre emissora.

Atuando junto à Record, temos sua poderosa “tesoura”, a Censura.

 

A censura

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“Censura é o uso pelo estado ou grupo de poder, no sentido de controlar e impedir a liberdade de expressão. A censura criminaliza certas acções de comunicação, ou até a tentativa de exercer essa comunicação. No sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão, como certas facetas da arte.” (Wikipedia).

Aí está: na necessidade de evitar alterações de pensamento e a consequente vontade de mudança, a Censura (“sócia” da Record) atacou XWP podando-lhe os galhos podres, o “supérfluo”. Cenas que podem fazer referência ao lesbianismo e à violência mais acentuada são cortadas sem dó nem piedade. Tudo bem em relação a cortar a violência, disso nossos noticiários já estão transbordando de ocorrências reais. Mas no quesito sexualidade, a censura prefere abster-se de mostrar carinho entre duas mulheres, por medo de influenciar crianças e jovens a aderirem à moda bissexual. Ok, ninguém, principalmente um veículo de comunicação do porte da Rede Record de Televisão, precisa ser partidário de algo que pode vir a desvirtuar uma pessoa em idade de formação psicológica, mas “tapar o sol com a peneira” não é a melhor solução.

Ao cortar determinadas cenas (e por vezes pular episódios inteiros) de uma obra como XWP, o contexto fica com crateras tão lunares que a estória se perde, telespectadores ficam à deriva, feitos de palhaços por uma emissora decidida a passar suas programação por um funil. Os homossexuais e a violência de sangue estão à nossa volta, mas a Censura e a Record optam por não tocar nesses assuntos, para que ninguém aponte a emissora de Edir Macedo como vinculada à obras de desvios comportamentais.

Enquanto adota uma política de proteção ao público, a Censura toma os telespectadores como seres incapazes de pensarem por si próprios, filtrando informações que deveriam ser absorvidas e assimiladas de acordo com a cabeça de cada um, não apenas com a mente de um núcleo de poderosos que decidem o que vai ao ar ou não. De qualquer modo, a geração Internet sabe contornar a censura, buscando em websites tudo aquilo que lhes foi vetado na TV, como a cena do beijo de Xena e Gabrielle em The Quest, que o SBT apressou-se em cortar lá nos anos 90.

 

Pica-Pau

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Pica-Pau, campeão de audiência  acima de  XWP na Rede Record

 

Criado por Walter Lantz em 1940, Pica-Pau é um passarinho multicolor de natureza sádica. Em seus primeiros desenhos, ele  exibia um comportamento histérico, gargalhante, de aparência grotesca e dono de uma risada estridente muito particular. Inicialmente, ele sempre acabava se dando mal ao final de seus episódios. Com o tempo, o bicho foi remodelado e passou a assumir traços mais doces e um ar mais “cidadão pacífico”, mas, a despeito desse novo molde, ele dava o troco àqueles que o tiravam do sério. É um dos poucos personagens de desenho animado que possui uma estrela na Calçada da Fama.

Pica-Pau chegou ao Brasil em 1950, sendo exibido com seu áudio original pela extinta TV Tupi. Nos anos 60, a Rede Record comprou o desenho e passou a exibi-lo com a dublagem em português (que ganhou prestígio no Brasil apenas em 1957). Anos mais tarde, após um longo hiato, ele ficou acomodado no SBT de Senor Abravanel até 2002, até alçar vôo para a Rede Globo, que veio a remasterizar as fitas e reprisá-lo esporadicamente até meados de 2006. Alguns canais a cabo como Jetix e Cartoon Network também convocaram a ave para exibir-se diante de sua criançada telespectadora. Por fim, veio a pousar na Rede Record em novembro de 2006, onde chutou XWP para fora da grade de programação.

Muito xenite odeia o Pica-Pau por entrar na Record acotovelando-se com Xena. Fato é que a culpa não é do animal, mas dos cabeças da emissora, que vê o passarinho como algo digno de tantas reprises, como o SBT vê Chaves até hoje. Uma coisa que Pica-Pau e Xena têm em comum são as investidas da Censura, que passa a tesoura em toda e qualquer cena mais violenta, e violência é uma coisa que Pica-Pau tem de sobra, ensinando as pessoas (não apenas crianças) a vingar-se de seus desafetos pagando-lhes numa moeda mais cara. A moral da coisa é que Pica-Pau pode não ter beijos lésbicos, mas é tão agressivo quanto Xena na formação de um caráter.

 

Universal

 

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Fiasco em seu controle de qualidade.

Certo, não devemos cuspir no prato que acabamos de comer. Afinal, depois da MCA, a Universal detém os direitos de exibição de XWP no Brasil. Graças a essa distribuidora, pudemos conhecer Xena em sua época de ouro no SBT e na TV a cabo nos anos 90. Entretanto, o real inimigo dos xenites brasileiros é, mais especificamente, a Universal no ramo “DVD nacional”. Associaram? Não? Eu explico…

Em 3 de novembro de 2006 a Universal DVD Brasil, aproveitando carona na boa audiência que a série dava na Rede Record, decide lançar no mercado a 1a temporada de Xena Warrior Princess. Fãs da dublagem original e desejosos de terem XWP imortalizada digitalmente em sua coleção de DVDs correram para as lojas… Eu me pergunto quantas vezes na nossa vida teremos de correr ao encontro de decepções como esta… Bom, que nem diz a Anya em BtVS, “a qualquer hora deve vir a recompensa kármica”…¬¬.

O que foi que aconteceu? De um total de 24 episódios da 1a temporada, tínhamos em mãos uma caixinha raquítica chamada VOLUME 1 com apenas 12 episódios, onde 3 discos amontoados um por cima do outro ocupavam o mais novo lançamento da Universal. Cadê o box que Xena merece, caprichado, rechonchudo, decorado? Fui do espanto à indignação, passando pelo puro nojo. Não era possível que uma distribuidora da linha da Universal tivesse a cara-de-pau de lançar uma bagaça dessas. Tá, sabemos que investir num material mais trabalhado pode acarretar prejuízo para a empresa caso as vendagens fiquem aquém do esperado… maaas… POR QUE não fizeram uma tiragem limitada com boxes de luxo? Garanto que, desse modo, ficariam sem estoque em tempo recorde. Estamos na mão até hoje à espera da 2a temporada nacional… isso SE há alguém ainda à espera, e lhes direi o motivo…

Tá certo que a imagem granulada é consequência da película utilizada nas  filmagens lá em 1995, com orçamento sobrando de Hercules, mas nada explica o descaso da Universal Brasil com o que tinha em mãos pra lançar aqui pra gente. Legendas sorraterias, ora vêm, ora vão, repletas de erros de tradução e sincronia. Os episódios não são divididos em capítulos, ou seja, se você quiser ver uma cena adiante, só usando o avanço rápido. No disco 2 do volume 2, em The Royal Couple of Thieves, o episódio termina bruscamente (!!!) no minuto 08:03 e volta sozinho para o menu. De indignar. E os extras limitam-se a uma galeria de fotos bem pobrezinha.

 

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Xena e xenites feitos de palhaços.

Bom, amigos xenites, parece que assim como Xena teve Alti e Callisto em seu encalço, nós também temos de enfrentar alguns inimigos tiranos.

One Comment

  • Bruno

    De fato a Universal deixou muito a desejar com o lançamento da 1ª temporada em dvd. Tirando tudo o que foi mencionado, tem a parte das “caixas” dos dvd’s que são imóveis (na hora de tirar o dvd), tanto é que eu rachei o dvd 3 do volume 1 tentando tirá-lo da caixa [ele não saía].

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