RX entrevista…. STEVEN L. SEARS!
SIM! Isso mesmo xenites do meu Brasil, a entrevista desse mês é com o nosso roteirista mais Gab-Cêntrico do xenaverse : Steven Sears!
Meus sinceros agradecimentos a esse grande homem, que embora seja uma pessoa super ocupada, tirou algumas horas para responder nossas perguntas numa entrevista exclusiva para os fãs brasileiros, sempre com uma simpatia e consideração rara!
Obrigada também aos xenites que ficaram sabendo da surpresa um pouco antes para que pudessem me ajudar, formulando perguntas!
E não menos importante, meu agradecimento ao Alessandro Chmiel que prestou seus serviços de tradutor!
——
Palavras do Alessandro:
Foi indescritível o prazer e a honra que senti ao traduzir as palavras do Sr. Sears. Espero ter feito o melhor que pude com a colaboração indispensável da Mary Anne. Para quem quiser conferir ou mesmo preferir a versão original, a entrevista em inglês encontra-se NESSE LINK.
—–
E agora, finalmente, com a palavra…Steven Sears:
“Primeiramente, permitam-me agradecê-los pela oportunidade de responder suas questões. Peço desculpas pela demora que levou até eu respondê-las, mas estive bastante ocupado por um tempo. Sem falar que nós tivemos outra Convenção de Xena aqui em L. A. e que exigiu muito de mim!
Eu não tive a chance de ir atrás e corrigir a digitação e coisas assim, então peço desculpas para aqueles que aí estão (e eu sei que estão!). Também sei que vocês certamente estarão traduzindo para português ou espanhol, então espero que os significados de quaisquer expressões do inglês sobrevivam às traduções.
Com isso, aqui vão minhas respostas”
1 – Uma coisa que cada fã pensa sobre você, Steven, é o quanto você importa-se com a série , o quanto você se lembra dela depois de todos esses anos. Você é provavelmente o maior “xenite” dentre os escritores de XENA. Então permita-me perguntar, o que “Xena Warrior Princess” representa para você depois de todos esses anos, não apenas escrevendo histórias para a série, mas comparecendo nas Convenções de Xena e fazendo parte do Xenaverse?
Eu trabalhei em muitos programas diferentes. Algumas pessoas pensam que minha carreira começou com Xena, mas não foi. Estive trabalhando como escritor na televisão por durante dez anos quando Xena surgiu. E cada seriado é diferente.
Mas a maior coisa sobre Xena, a coisa que a separa de todas as outras séries em que trabalhei, são os fãs. E ainda que outras séries tenham tido fãs, eu nunca trabalhei numa série que tenha uma base de fãs tão devota quanto Xena.
Os fãs de Xena estimam a série; eles estimam a escrita, a atuação, a direção, a produção e eles reconhecem que são pessoas reais que trouxeram isso tudo. A maior parte dos fãs apenas prestam atenção aos atores e pensam que a série começa e termina com eles. Não há possibilidade de Xena ter chegado a qualquer lugar perto do sucesso que chegou sem Lucy e Renée, mas os fãs de Xena entendem que não seria um sucesso sem todos os outros trabalhando por trás das câmeras. Aqueles de nós que produziram o programa estimam o fato de que NÓS somos estimados.
Eu gosto dos fãs, gosto de sair com eles, gosto de escutá-los.
A vasta maioria dos nossos fãs são pessoas interessantes, inteligentes, que dividem uma paixão. Eles vêm de todos os caminhos da vida; todas as idades, todas as raças; e você pode encontrá-los em todo o mundo. Eu simplesmente gosto da companhia deles!
2 – Uma impressão geral que nós, fãs, temos – ao menos aqui no Brasil -, é que um dos personagens que você mais se importa é Gabrielle. O que você pensa sobre a personagem e sua evolução ao longo do programa?
Desde cedo, eu me apeguei a Gabrielle quando pensei nela como sendo mais que uma ajudante. Ao invés de colocá-la em uma linha secundária, eu pensei que ela poderia ser sua própria personagem com igual participação na série. Sim, a série chamava-se Xena e giraria sempre ao redor dela, mas Gabrielle, na minha mente, era o componente mais importante na jornada de Xena. Justo antes de Xena ver Gabrielle de fato, ela estava pronta para jogar tudo para cima. Xena estava enterrando suas armas, o que, considerando quantas pessoas a queriam morta, era o seu modo de desistir da vida. Mas quando ela vê Gabrielle, e vê como Gabrielle estava resistindo aos homens de Draco, alguma coisa se acendeu dentro de Xena e trouxe para fora essa parte dela que há muito tempo havia sido enterrada.
Essa parte poderia fazer a diferença para o bem ao invés do mal.
Eu fico feliz de ter sido uma parte importante na evolução de Gabrielle. Para mim, a jornada de Gabrielle era a jornada heróica. Ela voluntariamente escolheu caminhar da luz (seu lar seguro e a salvo) para as trevas (a maldade do mundo de Xena). A princípio, foi porque ela era atraída por Xena e atemorizada por ela. Mas, depois, era porque ela sabia que estava no caminho de algo. Ela tinha que explorá-lo. Ela fazia parte de um Bem Maior e deu-se conta que deveria cumprir seu papel.
Naquele ponto em que deixei o programa (a meio do caminho durante a quinta temporada) eu estava muito feliz com o crescimento de Gabrielle. Ela foi de uma simples menina camponesa a algo como uma guerreira por si só, mas uma guerreira com senso de certo e errado. Depois que eu saí, bem, não posso dizer muita coisa porque eu realmente não assisti nenhum episódio desde que deixei a série.
3 – Quais suas impressões sobre o novo programa de TV, “Legend of the Seeker”? Você acha que alcançará o mesmo sucesso que Xena obteve?
Ainda é muito cedo para dizer, mas eu não acho que alcançará o sucesso de Xena. E isso não quer dizer que vai fracassar. Entendam, muito, MUITO poucas séries têm o tipo de sucesso que Xena teve. As chances são simplesmente grandes contra isso. Xena tornou-se uma parte da nossa cultura popular. Toda hora você ouve alguma coisa referenciada como “Warrior Princess” ou uma variação, isso foi um resultado de Xena.
Seeker é uma história diferente e contada de um jeito diferente. Quando fazíamos Xena, nós éramos muito cuidadosos para corrigir as pessoas quando nos chamavam de um seriado “Espada e Magia”. Nós éramos “espada”, mas definitivamente não éramos “magia” (nós tínhamos deuses, mas não magia). Entretanto, Seeker é uma verdadeira série de Espada e Magia. Não tem o senso de humor que Xena tinha, é muito, muito mais dramática, e tem um tom diferente. E, uma outra coisa que Xena tinha era que a série tocou e deu poder de voz entre tantas pessoas.
Seeker ainda tem que fazer isso. E, para dizer a verdade, Seeker pode não ser o tipo de série que POSSA fazer isso.
Ainda assim, a série tem um ótimo visual. Eu desejo que tenha sucesso porque conheço tanta gente associada a ela.
4 – Os anos se passaram e a esperança (nenhum trocadilho intencionado) para um Filme de Xena não é mais tão forte. Se o estúdio decidisse fazer um filme em 2009 e você fosse o escolhido para escrever o roteiro, você escolheria escrever uma história com Xena voltando à vida ou outra história sem conexão com os eventos de AFIN?
Primeiro, permitam-me dizer que eu nunca fui abordado por ninguém em relação a um filme de Xena. Não como escritor, produtor ou participante. Não estou reclamando, estou apenas esclarecendo que eu sei tão pouco quanto qualquer um sabe sobre isso.
SE eu fosse solicitado a escrever um script para um filme de Xena, dependeria muito de quem estivesse produzindo e do que quisessem fazer. Mas se fosse deixado nas minhas mãos, eu pegaria depois de AFIN e continuaria a mitologia. Não é que já não tivéssemos trazido Xena de volta dos mortos antes, vocês sabem. Eu não assisti AFIN, então só posso seguir com o que os fãs disseram a mim. Mas, de acordo com o que ouvi, ainda há muitas perguntas não respondidas e linhas soltas. Se isso for verdade, então há uma oportunidade de encontrar uma outra história para contar.
5 – Qual sua temporada favorita de XENA e por que?
Ok, melhor entender que eu não respondo questões de “favoritos”. Não é que eu tenha qualquer coisa contra elas, apenas não sou ligado a pensar em coisas como “favoritas”. Isso depende mesmo do meu humor no momento e do que você se refere por favorito. As pessoas me perguntam qual é meu episódio favorito e eu não consigo responder. Eles todos são meus favoritos dependendo em quê você quer focar. E mesmo assim. Então eu diria a primeira temporada porque estávamos explorando ainda. Poderia dizer a terceira temporada porque a tomamos numa direção que a maior parte das séries não ousaria seguir. Mas vamos dizer apenas que eu gostei de todas as temporadas por diferentes razões.
6 – Há toda essa coisa sobre ubers e reencarnações de Xena e Gabrielle. Bem, vamos supor um casal em outros seriados, livros ou filmes, personagens que são reencarnações de Xena e Gabrielle. Qual deles você pensa que seria? (ex. Romeu e Julieta, Mulder e Scully, Will e Grace etc.).
É uma boa pergunta. Todos esses são bons exemplos, mas nenhum deles é perfeito em minha mente. Então eu iria para um lado mais filosófico e dizer que é Marilyn e Amanda. Ou George e Thomas. Ou Julie e Daniel. É a pessoa comum. Não são as pessoas ficcionais, são as pessoas que vejo do dia-a-dia que encontram um amigo que é mais que um amigo. Poderia ser você e seu melhor amigo. E esse melhor amigo poderia ser seu amante. Eu gosto de pensar nisso desse modo; que o que Xena e Gabrielle eram uma para a outra não é só exclusivo à ficção.
7 – E agora, uma coisa que todo fandom brasileiro quer saber: você participaria de uma Xena Con no Brasil?
Bom… sim. Eu adoraria! Eu sempre quis visitar o Brasil e eu SEMPRE gosto de encontrar fãs e amigos. Uma coisa que eu sempre disse sobre Xena é que para onde quer que eu viaje no mundo, desde que haja televisão estabelecida naquele país, eu encontrarei um amigo lá. O Brasil seria maravilhoso. Alguém deseja me levar para um passeio e me mostrar as paisagens?
8 – O que você quis dizer com “Them Bones, Them Bones” da quinta temporada? Tem algo a ver com a canção “Alice in Chains”?
A fonte do título precede Alice in Chains por muitos, muitos anos.
Primeiro, deixem-me dizer que a versão final do episódio “Them Bones” foi uma reescrita da minha história. Eu já estava no caminho de saída para minha nova série, então eu escrevi a história e ela foi tomada pelo pessoal de Xena e, como de praxe, reescrita para a série. Se eu estivesse trabalhando ativamente no grupo naquele tempo (como estive da primeira temporada até então) eu teria feito todas as minhas próprias reescritas. Mas eu já estava fora, então outros tomaram conta disso. Eu não assisti o episódio e somente li o script reescrito quando foi enviado a mim. Então tudo que posso responder é quanto ao título. O título veio de uma canção folclórica bem antiga chamada “Dem Bones” que descrevia como os vários ossos conectam-se uns aos outros. Como um esqueleto ia ser significativo no episódio, o título me pareceu um bom nome. Contudo, para ser honesto, não consigo lembrar se fui eu que sugeri o título ou outra pessoa do grupo que deu o nome.
9 – Nós, Xenites até os ossos, sabemos no fundo de nossos corações como nos sentimos em relação ao programa, que não é qualquer um, é um universo nosso e dentro de nós. Você pode explicar se você se sentiu ou ainda se sente dessa maneira estranha e incrível em relação a XENA, a emoção especial que temos assistindo e vivendo as aventuras de Xena? Como você explica isso?
Posso afirmar sem nenhuma qualificação que eu não sinto da mesma maneira que os fãs sentem em respeito ao programa. Nem qualquer um que estivesse conectado com a construção do programa. É que tem a ver com o fato de estarmos tão próximos do programa, tão perto da criação dele, que não há possibilidade de sentirmos do mesmo jeito que vocês.
Coloquemos dessa forma: vamos dizer que vocês foram a um show de mágica e o mágico era tão incrivelmente bom que vocês ficam completamente extasiados com sua performance. Isso afetou vocês. Entretanto, agora considerem o ponto de vista do mágico. Ou do seu assistente. Eles sabem como as ilusões são feitas. Eles também sabem todas as OUTRAS escolhas que PODERIAM ter feito na performance da mágica. Eles não podem ficar extasiados ou ser afetados por isso. O ponto de vista deles e sua razão para o vínculo com o show de mágica é diferente do público.
ENTRETANTO… o que o mágico é afetado é pela resposta do público. O mesmo é comigo e com o resto de nós no programa. A resposta dos fãs nos dá o sentimento de admiração, satisfação, apreço e vibração que vocês, os fãs, nunca entenderão. Cineastas, não importa quem sejam, tentam colocar alguma coisa deles mesmos no seu trabalho. E alguma coisa das suas filosofias em seu trabalho. O fato dos fãs de Xena terem visto nosso trabalho e o valorizaram foi emocionante para nós. Ainda é. Nós os fizemos rir, os fizemos chorar, os fizemos sentir e, mais importante, os fizemos sentir ligados com a nossa série. Não conseguiria descrever o quão satisfatório isso é.
Toda vez que recebo uma carta de alguém descrevendo como Xena afetou suas vidas para melhor, não posso deixar de sentir tudo aquilo de novo.
10 – Algum ator se opôs ao curso da história de seu personagem durante o programa?
Hmmm… não que eu realmente me lembre. Digo, havia comentários aqui e ali, mas nenhum disse de fato que tinham um grande problema com alguma coisa. Eu me lembro de ter dado a Danielle [Cormack] a escolha de Ephiny morrer ou ser seriamente ferida em Endgame, e ela decidiu optar pela morte porque não sentia que sua personagem tinha potencial para crescer (e, da perspectiva dela, ela não estava errada em seu pensamento). Mas além disso, não. Provavelmente é uma pergunta melhor para Rob Tapert, já que ele tinha mais resposta deles do que eu tinha.
11 – O que você usava para se inspirar enquanto escrevia os roteiros no papel?
Não estou certo com o que você quis dizer. Você quer dizer onde eu pegava as idéias para as histórias ou o que eu fiz para me manter progredindo durante o processo de escrita?
Para a primeira pergunta, eu peguei minhas idéias de todos os lugares. Vida, notícias, noções, é apenas minha maneira de enxergar o mundo. Não posso ver as coisas sem fazer uma pergunta sobre o que eu tomo por certo. E, às vezes, era o Rob me pedindo para vir com uma história sobre algo específico. Por exemplo, eu tinha uma idéia que queria escrever sobre uma criança órfã que a mãe retornasse para reivindicá-lo, ainda que tivesse prometido jamais fazer isso. Um dia o Rob falou que brincou com a idéia de Xena ter um filho perdido. Eu peguei isso e fundi as idéias, criando “Orphan of War”.
Agora, sobre ser inspirado ENQUANTO escrevia os roteiros, bem, sou um escritor, então é o que eu faço. Eu não preciso manter minha inspiração fluindo, está sempre lá. Eu gosto de ouvir música enquanto escrevo. Na verdade, a música de Joe LoDuca é um grande pano de fundo na minha escrita, mesmo hoje.
12 – Há algum episódio de XENA que você escreveu que você menos gosta? Poderia nomear um que você se sente realmente orgulhoso?
De novo, é um tipo de pergunta sobre “favoritos”. Eu tenho orgulho de todos eles por várias razões. E tenho problemas com todos eles por várias razões. Sinceramente, a resposta é que tenho mais orgulho daqueles episódios que os mais afetaram de um jeito positivo.
13 – Você continuaria e tentaria mais assuntos “tabu” se estivesse escrevendo XENA no presente momento?
Claro. Uma coisa que o Rob sempre gravou sobre nós foi o “correr riscos”.
Não importa o quão bizarra fosse a idéia, nós a explorávamos como um possível episódio.
Algumas não chegaram lá, a maioria sim.
14 – No episódio “Between the Lines”, temos uma mudança drástica no estilo de Gabrielle, o caminho escolhido se aproximando e a pré-confirmação de sua morte. Você estava preparando o caminho para um iminente Gran Finale ou temperando as coisas para uma provável quinta temporada?
Em “BTL”, eu estava explorando aonde eu achava que os personagens iriam em encarnações futuras dos seus personagens. A idéia da reencarnação é que você tem muitas vidas até alcançar a realização. Se você se aperfeiçoar em uma vida, você progressará na próxima. Se não, você anda para trás na próxima vida. Eu queria mostrar onde Xena e Gabrielle estariam supondo que ambas estivessem progredindo em direção a suas realizações. Mas, mais importante, eu queria mostrar que essas duas almas estavam entrelaçadas pela eternidade. Não importa quem elas fossem em vidas futuras, elas estavam sempre conectadas e caminhando juntas. A progressão de Gabrielle foi verdadeiramente carismática, gentil e forte no comando. Xena era como uma pacifista, uma real pacificadora. Alti, por outro lado, não havia progredido em suas inúmeras encarnações e era apenas tão má quanto havia sido em gerações passadas.
O Finale e a quinta temporada não eram, na verdade, preocupações durante minha criação da história. Mas ambos tiveram que incluir elementos que eu criei em “BTL”.
15 – Pode nos contar sobre uma experiência difícil ou uma situação crítica naquela época?
Hmmm… não estou certo do que quer dizer. Nada que tenha, de fato, se sobressaído. Digo, foi um longo período de tempo, com muitas experiências, mas não sei dizer se houve uma época onde havia uma situação particularmente notável para lidar. Como disse, eu tinha lidado com a produção para a TV por onze anos antes de Xena. Havia pouca coisa que eu não tivesse visto ou lidado anteriormente.
Houve uma situação que lidava com uma convenção organizada por fãs, entretanto. Essa convenção não era licenciada pela Universal Studios, mas tinha a intenção de ter vários de nós presentes (as primeiras aparições de Kevin Smith e Karl Urban nos EUA, por exemplo).
Até aquele momento, a Universal tinha olhado para o outro lado quando Fãs queriam ter Xenafests (que era quando vários fãs de Xena se reuniam num restaurante, por exemplo, e assistiam vídeos). Isso foi importante porque outros estúdios, naquele momento, estavam enviando notificações por infração, ameaçando com ações legais se fãs fizessem qualquer coisa do gênero. Mas a Universal estava permitindo que isso acontecesse aos fãs de Xena. Contudo, essa convenção em particular queria fazer uma amostragem de itens de Xena ao restaurante Planet Hollywood local (um restaurante com tema de TV/Filme e museu). Alguns dos atores convidados seriam os que estariam fazendo de fato as apresentações. De repente, os advogados da Universal estavam se envolvendo ameaçando uma ação legal.
Eu fui apanhado no meio porque eu era um produtor trabalhando para a Universal mas que também era um convidado. Então, eu contatei os advogados do estúdio e eles me explicaram que eles não queriam fechar a convenção; na verdade eles queriam que ela continuasse. O problema foi que a apresentação iria, de fato, dar a impressão de que a Universal estava envolvida nessa convenção e a patrocinando. Isso criaria problemas para o estúdio. Agora, a Universal tinha todo o direito legal de fechar a convenção completamente, mas não era isso que eles queriam.
Eu os dou crédito total por serem espertos o suficiente para se darem conta que isso só machucaria os fãs. Eles só não queriam que a apresentação fosse feita para o Planet Hollywood. Eu concordei com eles e falei com os organizadores da convenção.
Um deles não estava feliz com isso e queria brigar, mas no final, a apresentação foi cancelada e a convenção seguiu como estava prevista.
Novamente, eu tenho que dizer que a Universal se comportou de maneira muito boa e com consideração.
16 – Se os outros produtores se reunissem para fazer alguns episódios extras para o programa, você colaboraria?
Claro. Quando começamos?
17 – Qual aspecto no programa lhe chama mais atenção?
Não estou certo com o que você quis dizer, então na verdade não posso responder essa pergunta.
18 – Na sua opinião, qual a razão principal de XWP ainda fazer tanto sucesso entre as pessoas, trazendo fãs a cada dia?
Eu acho que muita gente ainda é atraída pela ação, isso é uma inclinação geral.
Há aqueles que são atraídos pela sexualidade das entrelinhas e dos personagens, isso é normal. Entretanto, acho que a razão de longo termo para que essas pessoas se tornem verdadeiramente fãs é porque a série foi, até o âmago, sobre a relação entre duas personagens e as histórias humanas em que elas acabaram se envolvendo. Histórias de personagens são atemporais, as pessoas associam-se a eles.
Quando vemos heróis de ação, tendemos a fantasiar que somos como eles.
Mas quando vemos histórias sobre pessoas reais se relacionando com as outras, com os prazeres e dificuldades que todos experimentamos, nos associamos a eles.
E também há o fato de que, penso eu, muitos conseguem ver a diversão que de fato tivemos montando os episódios. Quero dizer, nós fazíamos um episódio lidando com problemas muito sérios, e logo fazíamos uma completa comédia onde apenas queríamos jogar a lógica pela janela e nos divertir. Eu acho que o público estimou isso. Eles ainda estimam.
19 – Se você pudesse reescrever AFIN, como seria?
Eu fui questionado sobre isso tantas vezes. Primeiro, deixem-me dizer que eu não estava lá quando isso foi discutido ou esboçado. Além disso, eu não assisti o episódio, somente ouvi os fãs falando sobre ele. Eu não posso questionar ou mesmo conjeturar nada do episódio. No final do dia, o Rob fez o que sentiu que era o melhor para a série e, uma vez que, sem ele, não haveria uma série Xena, é difícil criticá-lo por suas escolhas.
O jeito que eu sempre visionei o final seria com uma grande união de exércitos do mundo. Nós frequentemente nos referimos à batalha de Corinto como sendo onde o mundo mudara; os Centauros e as Nações Amazonas foram fragmentadas, por exemplo. Quando Xena se tornou, de fato, a Destruidora de Nações. Então eu visionei outra batalha como aquela, exceto que desta vez pelo futuro do mundo. No centro de tudo, Xena perceberia que o mundo precisava de uma Luz para guiá-los em um novo mundo de paz e bondade. E a luz era Gabrielle. Por conseguinte, Xena teria morrido da mesma forma, mas morrido dando seu último suspiro para garantir que Gabrielle tomaria seu lugar no trono como a nova Luz. Na cena final, eu sempre visualizei Gabrielle literalmente num Trono enquanto os líderes das nações curvam-se diante dela. Porém, por trás dela, em uma imagem espectral, você enxergaria Xena, sua mão pousando sobre o ombro de Gabrielle, nos dando o conhecimento de que seu espírito estaria sempre presente para ela.
É assim que eu teria abordado. Então eu, também, teria matado Xena. Mas as razões em torno disso seriam diferentes.
A minha idéia é melhor? Não. Ela não foi feita. Na verdade, eu nunca falei com ninguém sobre isso enquanto estava por lá. AFIN é o que o Rob e o RJ escolheram fazer e eu estabeleci esse final como o final legítimo da série, não importa o que eu teria feito.
20 – Você acredita que uma Sétima Temporada com outras atrizes no elenco principal seria aceita pelos fãs?
Sim e não. Seria sim, mas entendam que Xena tomou um certo misticismo devido ao tempo entre o agora e o quando acabou. De muitas maneiras, seria muito difícil viver à altura da antiga série de Xena.
Mantenham em mente que muito de Xena NÃO era aceito por muitos dos fãs ainda quando estávamos no ar. A série fez uma grande quantidade de mudanças e muitos fãs abandonaram o programa porque não gostavam das escolhas. Eu diria que nós certamente teríamos uma grande número de pessoas sintonizadas para os primeiros episódios. Depois disso, ninguém sabe.
21 – Há uma eterna disputa entre subtexters e non-subtexters sobre a relação de Xena e Gabrielle, onde não há, na verdade, nenhum forte argumento que possa confirmar uma versão ou outra. É possível que, algum dia, se estabeleça um senso comum sobre essa relação?
Não. Subtext e non-Subtext não são reconciliáveis. A razão para termos esses dois campos atualmente é porque trilhamos por uma linha cuidadosa entre dois conceitos sem comprometer-nos a um ou outro. A relação delas realmente reflete o que um fã em individual quer acreditar.
Agora, se você está perguntando se a questão vai ser definitivamente respondida algum dia, não enquanto não houver um filme ou uma série de continuação.
Todo mundo tem sua interpretação e isso é uma coisa boa.
22-Qual episódio, na sua opinião, representa de um modo geral tudo o que XENA quer passar aos fãs?
Todos eles. (Viram? Eu disse que não posso responder essas perguntas). Apenas olhem para o seriado inteiro como sendo tudo o que quisemos passar para os fãs.
23 – Se você pudesse mudar alguma coisa em algum episódio, qual episódio seria e o que você mudaria?
(Suspirando) Veja, esses são os tipos de perguntas que eu não consigo realmente responder.
Em primeira instância, o processo de tornar uma história em um episódio envolve bastante mudança, e eu poderia discorrer por cada episódio e lhes falar de todas as escolhas que não foram feitas, todos os compromissos que tinham que ser feitos, todas as coisas que eu quis que foram descartadas. É apenas uma parte natural do processo. Eu nem sempre conseguia do meu jeito, nem o RJ ou o Rob. Ou qualquer um de nós. Então, sim, eu mudaria alguma coisa em cada episódio. Mas o público nunca vê essas escolhas, vocês só veem o resultado das nossas escolhas.
24 – Se você fosse resumir XWP e todo o fandom em uma frase, como seria?
Uma família disfuncional, porém devota.
25 – Seu ponto de vista sobre o programa, sobre os personagens, certamente mudou bastante. De certa maneira porque eles evoluíram bastante. Pode dizer de que maneira isso mudou para você? De qual maneira você via a Xena e a Gabrielle na Primeira Temporada e como você passou a vê-las enquanto o tempo passava? Em que aspectos isso influenciou na sua escrita?
Os personagens tiveram permissão de progredir e mudar significativamente da primeira temporada. Digo, a Gabrielle de Dreamworker é um grande contraste com a Gabrielle de Fallen Angel. Hoje não parece como uma grande coisa, mas vocês têm que entender que, até Xena surgir, as séries de TV não tinham permissão para mudar significativamente seus personagens. Sim, sempre tinha uma pequena mudança de um personagem, mas não onde houvesse mudanças tão drásticas quanto o que aconteceu com Xena e Gabrielle. As redes não queriam isso porque queriam poder repassar os episódios em qualquer ordem que quisessem. Bem, isso era difícil de fazer com Xena porque os personagens apresentavam um crescimento notável.
Eu sempre fui fã de fazer isso e fiquei frustrado pelas restrições pela maior parte da minha carreira (a maioria das pessoas esquece que eu tive uma carreira de muito sucesso mesmo antes de Xena). Então não posso dizer que isso afetou minha escrita, mas a mudança de atitude com a indústria da TV me permitiu escrever do jeito que eu sempre quis. Criar personagens que mudariam e evoluiriam ao longo do tempo. Para realmente serializar uma série (significa que uma série deve ser vista com estética linear, do começo ao final, como se lê um romance).
26 – Você sempre escrevia episódios dando bastante eminência à personagem de Gabrielle e como ela era importante para a personagem de Xena. O que mais chamou sua atenção nessa personagem? Você se identifica com ela em algum aspecto? Por que sempre dar eminência a ela?
Eu adoro a psicologia envolvida a Gabrielle despertando para o mundo ao seu redor. Há algo de muito infantil nos seus primeiros passos, e seu crescimento reflete muito do crescimento que todos nós nos encaramos de uma maneira ou de outra. Quando somos crianças, nos são contadas histórias de fantasia onde as escolhas são fáceis, o bem e o mal são óbvios, e finais felizes são inevitáveis. Enquanto ficamos mais velhos, a realidade vai batendo na nossa cara.
Pessoas diferentes lidam com isso de jeitos diferentes. Mas isso é normal no crescimento da infância à fase adulta. Gabrielle era uma adulta quando deixou sua aldeia.
Mas suas expectativas sobre o mundo ainda fiavam-se às histórias de fantasia que ela ouvia e contava. Como ela lidou com isso a tornou a verdadeira heroína na minha mente. Ela poderia ter voltado correndo para casa ao primeiro sinal de perigo, mas ela não o fez. Olhe a canção “War/Peace” em The Bitter Suite. O que Gabrielle passa no início da canção descreve a fantasia da segurança de ficar em casa. Tudo é perfeito, todo dia, todo dia, um tanto chato, até. Era daquele lugar que ela viera. Mas ela escolheu não ficar lá. Eu queria desenhar o seu curso dentro do mundo real.
27 – Hoje em dia, você se arrepende de ter escrito algum dos episódios? Há algum que você definitivamente deletaria da série? Se for um sim, qual deles? Por que? E qual episódio você gostou mais de ter escrito e por que?
Outra daquelas perguntas. Não posso responder. De novo, não porque eu não queira, mas porque eu simplesmente não consigo. A série é o que é e eu acho que trabalhei relativamente bem do modo como foi. Há fãs que, estou certo disso, podem responder essa questão e estou certo de que suas respostas são absolutamente corretas… para eles.
Quanto a qual episódio eu mais teria gostado de ter escrito, eu diria que todos eles. E, desde que eu tive uma mãozinha em todos eles, estou satisfeito e orgulhoso do que os outros escritores fizeram.
28 – Qual foi a melhor coisa que aconteceu a você na época em que estava trabalhando no programa?
Tantas coisas. Nossa, financeiramente foi ótimo. Criativamente foi ótimo.
Mas a melhor coisa a longo prazo que tenha resultado disso é que eu tenho amigos por todo canto do mundo. Então, a melhor coisa que aconteceu a mim? Vocês. Os fãs.
29 – Como era trabalhar com Lucy Lawless e Renée O’Connor? Com que frequência elas faziam suas sugestões sobre o roteiro?
Lucy e Renée são demais (vocês esperavam qualquer outra resposta? Elas são).
Elas vieram de diferentes estilos de atuação, mas a química estava lá para quem quisesse ver. Ajudou o fato de elas também serem boas amigas desde o primeiro dia.
Com a frequência que elas faziam sugestões aos roteiros, não era algo frequente.
Elas pareciam gostar do material que dávamos a elas e nós curtíamos vendo o que elas fariam com ele. Foi uma mola impulsionadora onde nós tentávamos fazer melhor porque víamos a qualidade do que tínhamos dado a ele.
Então as sugestões que elas davam não eram tão comuns e as que foram dadas quase sempre não eram críticas. Apenas sugestões em como fazer melhor as coisas do ponto de vista delas. Nós levávamos suas sugestões em consideração, assim como fazíamos com todos envolvidos no programa, e se eram sugestões boas, nós as usávamos.
Eu lembro de uma vez, durante a filmagem de The Price, quando Lucy me chamou do cenário e tinha uma pergunta sobre os guerreiros da Horda gritando por kaltaka (água). Ela disse “Estamos filmando próximo de um lago, há água por todo lugar!”. Eu ri e disse a ela que a Horda que estava berrando tinha infecção intestinal, o que significava que estavam perdendo sangue e fluidos. Houve vários casos na história de feridos clamando por água durante tempestades. Tinha pouco a ver com apenas estar com sede. Quando eu expliquei isso, ela disse “Ah, saquei!” e foi isso.
Novamente, poderia ser uma boa pergunta para o Rob já que ele trabalhava mais diretamente com Lucy e Renée.
30 – Qual foi o momento que você se sentiu mais emocionalmente envolvido como espectador?
Muitas vezes, mas o momento que sempre fica comigo foi em Greater Good quando Gabrielle exalta sua fúria, frustração e mágoa batendo com o bastão contra a árvore. Eu escrevi essa cena e muitos no escritório não gostaram dela, disseram que o público não ia entender. Eu lembro de ter dito “Renée vai entender e é isso que conta”. Ela entendeu e o resultado foi maravilhoso.
31-Você e os outros produtores têm alguma idéia de como vocês influenciaram as pessoas ao redor do mundo com o programa?
Sim e não. Nós entendemos isso só pelo fato de que temos tantos fãs que nos dizem como foram influenciados e como tiveram suas vidas mudadas.
Mas novamente como o mágico, não podemos sentir como vocês sentem. É um tanto esmagador para mim, para ser honesto. Houve tanta gente que me escreveu ou veio até mim e falou sobre como isso mudou suas vidas, e eu fico constrangido e orgulhoso ao mesmo tempo.
Steven, muitíssimo obrigado pela sua paciência e atenção!
É por isso que o fandom brasileiro te adora tanto, como mencionado nas respostas, é como uma relação de amizade. Nós nos sentimos como se você fosse um grande amigo nosso.
Todos sabemos o quanto você é ocupado, e saber que você tirou algum tempo para responder nossas perguntas é uma honra que jamais esqueceremos!
Fotos de: www.pondalee.com( Pondalee Productions)