A Noiva não está satisfeita.Ela MERECE vingança.
Por Alessandro Chmiel
(contém spoilers de KILL BILL)
Amigos e amigas Xenites! Bem vindos a mais uma nova edição da RX e de uma edição DUPLA da GP!
Sim, pois é: relendo a edição passada, a pessoa que vos fala percebeu que por mais que se tratasse de um bom texto, a GP n. 4 falou pouco da heroína em si, e muito mais do filme. Com medo de jogar spoilers sobre quem ainda não havia assistido, me foi tirado o “direito” de falar de quem A Noiva realmente é. Farei um giro sobre suas atitudes, para em seguida analisar suas habilidades de heroína.
A Noiva: ela merece uma atenção tão especial quanto sua vingança.
Para quem já viu o filme, o bom seria começar de uma parte quase no final do Volume 2, durante o capítulo 10. Na cena, Bill (David Carradine) atira um dardo em (agora com o nome revelado) Beatrix Kiddo (olhem o K e o B do título!), contendo uma substância que não a permite mentir.
O vilão conta a ela o quanto adora histórias em quadrinhos e faz uma comparação entre o Homem-Aranha e o Super-Homem, dizendo que o primeiro precisa vestir uma fantasia para ser um herói, e que o segundo veste a fantasia de humano como Clark Kent, sendo um herói a todo o momento. Nesse ponto, o antigo amor de Beatrix lhe pergunta se ela gostou de matar cada uma de suas vítimas durante sua jornada sangrenta de vingança. Para possível surpresa de muitos telespectadores, a até então heroína da história confessa que gostou SIM! Ela gostou de matar cada uma delas, provando ser uma assassina por natureza.
Sentiu-se traído ao ver o filme? Não sinta-se. Convido novamente os leitores que, agora, espero que tenham assistido ao filme, reflitam sobre a conduta de Beatrix.
Já falei na GP passada de que Beatrix não tinha nenhum objetivo na vida a não ser se vingar. Será?
“Você aceita Beatrix Kiddo como sua legítima esposa?”. Eu, hein…
Usarei uma comparação com o episódio Remember Nothing (02×02) de XENA. Suponhamos que A Noiva acordasse dos quatro anos do coma e resolvesse se esconder. Fugisse pra longe, vivesse em algum lugar remoto, recomeçando sua vida. Uma casa, um carro, as compras, um cachorro, talvez um novo namorado. É bem plausível que desse certo, até porque antes do coma Beatrix fugira grávida do Esquadrão Assassino de Víboras Mortais. A única coisa que poderia arruinar um recomeço de sucesso talvez fosse o mesmo: Bill.
Beatrix talvez seja melhor comparada com Xena em questão de “vítima do Destino”. Não se sabe, ao assistir os filmes, o que a fez se tornar uma assassina profissional. Só se vê, no filme, sua essência de mulher determinada a alcançar seu objetivo. O choque entre ser uma heroína ou ser uma assassina sanguinária fica explícito na tela quando ela aponta a arma para Bill e vê sua filha (que até então julgava morta) brincando de “arminha”.
É conturbado e dificílimo definir Beatrix como uma heroína vendo o banho de sangue que ela fez e a impiedade com que tratou certos inimigos. Ao mesmo tempo, como vê-la como uma mulher má se ela só está lutando por algo que é dela de direito? A sua vingança, por pior que seja (e sendo uma VINGANÇA), é justa. Repito o que disse na GP passada: Beatrix não tinha nada a perder. Ela não afetaria ninguém (a não ser a filha e o marido de Vernita Green – Vivica A. Fox -), e em seu pensamento honraria seu bebê, tão vítima da crueldade de Bill quanto ela própria.
Beatrix no treinamento com Pai Mei: a aluna mais disciplinada do excêntrico mestre.
Julgamentos à parte, vamos para a hora boa! O que torna Beatrix Kiddo uma guerreira? Para quem viu os filmes, vemos o treinamento duríssimo que ela teve com Pai Mei (Gordon Liu). No duelo com sua antiga companheira Elle Driver (Daryl Hannah), é possível comprovar o quanto Beatrix foi uma boa aluna, e mais ainda quando ela aplica o golpe final e fatal em Bill.
B. K. vs Elle (Melhor Luta no MTV Movie Awards de 2005): lindo e nojento ao mesmo tempo.
Em termos de técnicas marciais, Beatrix é insuperável (ao menos em sua época). Sua espada, uma legítima Hattori Hanzo forjada pelo próprio mestre espadachim (Sonny Chiba), também entra na lista da maior espada feita para um guerreiro: uma mulher!
Analisando cada luta, Beatrix mostra habilidade com facas, espadas, armas de tiro, antenas de TV (me lembrou Xena lutando com os objetos mais absurdos), agilidade, resistência a dor, fôlego (haja fôlego para enfrentar 88 malucos!), inteligência, destemor, paciência, honra e coragem. Ufa!
Beatrix Kiddo em ação: ninguém segura essa mulher.
O melhor de Beatrix (e é o grande fator que me faz colocá-la na GP como heroína) é seu senso de honra nos seus combates. Pode-se ver nas conversas entre seus inimigos o quanto eles a respeitam e que, de alguma forma, se sentem culpados por tudo que fizeram a ela. E mesmo no meio de todo esse universo louco em que ela está inserida, há espaço pro perdão e pro agradecimento. Não há nada mais lindo do que a cena do banheiro, onde Beatrix agradece a algo ou a alguém pelo objetivo ter sido alcançado e por ter sua filha de volta. Uma fé invisível até aquele momento, mas fé que a fez ser quem ela é: determinada, forte, heroína e… mãe.
Peço perdão àqueles que vieram até a GP e disseram “Mas de novo!”, mas fiquei com um terrível peso na consciência em tê-la tornado apenas mais uma personagem de KILL BILL. Ela é, sozinha e sem fantasias ou máscaras, a essência do filme, e um exemplo (ok, extravagante) de uma heroína contemporânea.
Obrigado, comentem e não deixem de ler a reportagem especial sobre Lady Croft!