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8 - 11 minutes readO Poder do Destino em XWP

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                                                              Por Mary Anne 

INTRODUÇÃO

Para os Gregos, o conceito de Destino sempre foi algo muito presente e de grande importância em suas vidas. É fácil encontrar obras clássicas que trazem seus protagonistas como vítimas desse elemento tão complexo, vitima de um Destino inescapável que se realizaria eventualmente. Alguns exemplos são Édipo, da obra Édipo Rei, que estava fadado a matar o próprio pai e casar-se com sua mãe, Ulysses (eww) que navegou durante 20 anos e chegou a achar que jamais voltaria a Ítaca, mas voltou por obra do Destino, ou o caso da fé cega de Prometeu que o destino de Zeus se cumpriria e ele seria destronado por um herdeiro.
A nomenclatura para esse termo tão complexo é vasta. Destino, Sorte, Fortuna, Sina… Na mitologia, é representado por três mulheres que também recebem diferentes nomes em diferentes línguas. No Português, Moiras, Destinos, Desatinos, Meras, Parcas ou Fados. No Inglês, Fates, Moirae ou Parcae. Puxando para o lado dos germanos, na mitologia nórdica são ainda conhecidas como Nornas… Pelos anglo-saxões ainda foram nomeadas de “irmãs Estranhas” e passaram a chamá-las de Wyrd ou Wurd, o que tem ligação com o termo inglês “Weird” (estranho, esquisito).
FADO inclusive dá nome ao ritmo musical originado em Portugal. O fado, fiel a sua etimologia, passa a ser, desde os seus inícios, a canção do Destino, nesta concepção de imutabilidade do curso da vida, inclusivamente capaz de se impor aos deuses. Se analisarmos a palavra original no Latim, FATUM, vemos que daí também provém o termo FATE, no inglês.
Sobre essas três irmãs podemos citar que: 
“Cloto, Láquesis e Atropos eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos Deuses, quanto dos seres humanos, eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Durante o trabalho, as moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios, as voltas da roda posicionam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. Conta-se que o deus Ares foi o único ser capaz de submeter as Moiras à vontade dele; fora essa exceção, elas jamais foram manipuladas, e nada se pode fazer para detê-las, ou ganhar-lhes o favor (até porque as Moiras entendem que o trabalho delas está mesmo acima delas próprias).”
Sobre o trecho em destaque, podemos ver que isso foi passado para a série, uma vez que em Sacrifice é Ares quem incita as Moiras a cortarem o fio da vida de Xena, caso ela mate Esperança. Contudo, por “direito poético”, em XWP, as Moiras foram mais uma vez submetidas à vontade do homem, quando Julio César resolveu dar uma de tecelão e ferrou com o mundo.
Mas a questão pertinente a ser levantada é “Até que ponto sabemos o que é Destino no xenaverse?”

NO XENAVERSE

 

Nossas amigas Fates apareceram em vários episódios, desde a segunda temporada. Em Remember Nothing elas deram uma segunda chance à Xena, uma segunda vida que ela poderia ter escolhido viver ou não. Mas esse poder de escolha não anularia o poder do Destino automaticamente, ou já teriam as Moiras determinado que Xena não viveria aquela segunda chance? Se assim fosse, qual a razão de tê-la enviado de volta?
Muito se fala de Xena e Gabrielle como mulheres fortes que moldam seu próprio Destino, mas até que ponto elas são moldadas pelos seus destinos? Em Sacrifice ouvimos as três irmãs dizerem “Se Xena matar Esperança, Xena morrerá”. Qual a função do fator probabilidade? Destino não é FATO, como sugere sua própria etimologia? Considerando esse fator da probabilidade, os próprios Destinos eram incertos em seus julgamentos, e manipuladores como os demais deuses. Também vulneráveis, como é mostrado mais tarde.
Sabemos que Solan, por exemplo, foi amaldiçoado por Alti a nunca conhecer o amor dos pais, mas seria esse de fato o Destino do garoto, e desse modo, como teria Alti o poder de manipular as Fates? Seria cogitável dizer que Alti era apenas um instrumento dos Destinos, ou até mesmo que cometeu um blefe ao professar sua maldição? E até que ponto essa sina de Solan foi cumprida, uma vez que embora não soubesse que Xena era sua mãe, ele recebeu seu amor em Orphan of WarMaternal InstinctsThe Bitter Suite e God Fearing Child?
Outro caso interessante a analisar é o de César e todo o arco que ele carrega. César tinha uma fé inabalável no Destino. Ele acreditava que ele se tornar o governador do mundo era um fato imutável e colocava isso acima de suas emoções, de sua honra e do seu caráter. Ou ele queria uma bela desculpa pra ser o filho duma bacante que era?
Em Adventures in the Sin Trade II, Xena tem uma visão do futuro, Gabrielle e ela morreriam nas cruzes romanas. Isso trouxe para a personagem e para os telespectadores uma temporada toda de agonia, perguntando-se se aquilo realmente se realizaria ou não, enquanto Xena tentava a todo custo evitar. E não podemos dizer que ela não tentou! Ela cogitou até esmigalhar seu coração em centenas de pedaços, deixando Gabrielle com Najara ou Aiden, para que a profecia não se cumprisse pelo menos para sua alma gêmea. E então chegamos a Endgame, final de temporada, roendo as unhas de ansiedade. Aparecem os romanos, oh, mau sinal. O espectador pensa “Damn it! ROMANOS! Um episódio antes de Ides of March, isso não vai prestar”. ChegaIdes, e Xena faz Gabrielle prometer que não a seguirá, e o espectador respira aliviado pensando “não acontecerá, não acontecerá”, mas eventualmente, o que Xena tentou tanto evitar, acontece. E vemos que ela não teve controle nenhum sobre seu Destino, embora as Fates não tivessem nem dado as caras nesse meio tempo. Ou estaria a morte de Xena e Gabrielle regidas pelo Karma, e não mais pelas três irmãs esquisitonas? Já César, levou uma bela rasteira das suas três amigas esquisitonas e acabou não mais governando nem Roma e nem o mundo.
Com o inicio da quinta temporada, conceitos cristãos são envolvidos na série, mas ainda assim o conceito de Destino é retomado em Seeds of Faith quando Xena explica que os Destinos falaram de um tempo em que a humanidade não mais precisaria de deuses, o que nós Xenites conhecemos muito bem como “Crepúsculo dos Deuses” (dos deuses, não do Edward e da Bella, não se empolguem, twilighters…). Três episódios mais tarde, em God Fearing Child, Zeus relata ter sonhos sombrios e vai até as Fates dar uma verificada no seu Destino (afinal, por que o rei dos deuses procuraria uma cartomante, não é?). As mesmas revelam que ele continuará governando até que nasça uma criança não concebida por um homem. Se o xenaverse fosse chato e seguisse a mitologia corretamente, essa criança já teria nascido e estaria um enorme marmanjo, chamado Hércules, mas como o Xenaverse TEM licença poética e é por isso que o amamos, essa criança eventualmente era EVA, a filha de Xena (e ainda tem gente que insiste em perguntar quem era o pai de Eva…) que por motivos do bem maior, leva Hércules a matar Zeus.

           

Como todos que assistiram a quinta temporada e presenciaram a temporada de caça à Eva sabem, por mais que os deuses tentassem deter a profecia das Fates, acabaram mortos, não da maneira que eles pensavam que seriam, mas ainda assim, mortos. Ou seja, não houve Ares pra fazer trato com as Fates dessa vez, elas enfezaram e queriam os deuses mortos e assim sucedeu-se.

UM PARÊNTESES PARA O SIMBOLISMO

Momento pausa dramática do seriado, Eve: “Eu gostava de aranhas”

 

De acordo com Rosane Volpatto:
“A aranha, como uma epifania lunar, é dedicada à tecelagem e fiação. Seu fio evoca as Moiras ou Parcas. Sua teia é uma imagem do mundo criado e como tecelã se faz senhora do destino. Mas quem é ela? Seria a aranha a artesã do tecido do mundo, ou do véu da ilusão que dissimula a suprema Realidade?”
Como vemos no Season Finale da quinta temporada, Eva, o instrumento das Fates para detonar os Olímpicos, tinha uma relação bem “próxima” com as aranhas, dizendo que costumava brincar com elas. Aí se faz possível cogitar uma referência ao fato de Eva ser essa peça chave no destino dos deuses, da teia tecida que trouxe eles a esse fim.

VOLTANDO ÀS QUESTÒES ‘FATÍDICAS’

César e seu modelito de Halloween de mais de 25 anos atrás

 

Após as questões de Eva se resolverem, e se iniciar a sexta temporada, não ouvimos mais falar dos DESTINOS, até que uma Xenite que sabia que Xena se escrevia com X e não com Z, resolveu pular no sofá do Tapert e Raimi insistindo para ter seu roteiro aprovado. Essa Xenite, por acaso era uma talentosa roteirista chamada Katherine Fugate, a qual compreendia a alma de XWP e resolveu fazer um drama quase shakesperiano chamado When FATES Collide, e como todo drama clássico, o DESTINO estava metido no meio.
Como sabemos, em When Fates Collide (título adaptado no Português como “Ninguém Muda o Destino”) o imperador mimado, Júlio César, não se conforma com seu DESTINO e aproveitando que o Tártarus estava uma bagunça infernal (hum?) depois da morte de Hades, escapa dos domínios do submundo para tentar consertar sua vida torta e ferrar com o mundo. Como o moço do gel no cabelo não tinha talento pra tecelão, o tear virou uma bagunça sem precedentes e, como as Fates estavam muito bem amarradas e não podiam fazer nada, consequentemente o mundo tomou um rumo completamente diferente. César não traiu Xena (por ora), Xena não encontrou Gabrielle, virou imperadora de Roma que não é totalmente Evil ao contrário de César que continua sendo, Gabrielle virou uma escritora de sucesso que escreve sobre amor sem senti-lo e Joxer virou um centurião (convenhamos, só bagunçando MUITO o tear pra essa última parte acontecer). Ah, é claro, temos também Alti, que continua com os mesmos poderes “capetosos” de xamã, mas agora é a Alta Sacerdotisa de Roma, e pretende ir bem mais longe.

Gabrielle vendo o tear bagunçado. “Mas que zona é essa?!”

 

Uma frase de Xena que nos chama atenção é “Tudo aconteceu exatamente como deveria”. Ou seja, ambos os destinos, o real e o alternativo, acabaram se colidindo em um momento e se tornando o que deveria ser: o “destino” de ambas. Se encontrarem, “se apaixonarem novamente”, segundo as palavras de Fugate; Joxer ser o amigo que as ajudaria em algum momento, Xena ir parar na cruz de César e César ser apunhalado. E se formos pensar nessa frase, vemos que ela se aplica ao curso da série também. Muitas vezes reclamamos de fatos da série, sobre coisas que poderiam ter sido diferentes, mas foi o conjunto que a tornou a obra que amamos hoje, que faz sucesso entre diferentes gerações até hoje, porque tudo “foi exatamente como tinha que ser”. Mas voltando à questão de When Fates Collide, mesmo as Fates não tendo controle algum sobre os fios, o destino se concretizou, e isso nos leva a pensar até onde eram elas que realmente regiam os acontecimentos do destino de cada mortal grego. Gabrielle, inconformada com o mundo desamparado em que se encontrava, tendo sua alma gêmea morta e os tiranos no poder, revolta-se e resolve dar um fim em tudo. Resolve mandar o mundo se danar, literalmente, uma vez que as Fates haviam afirmado que destruir o tear era destruir o mundo. Ela pagou pra ver. E trouxe de volta o mundo ”normal”.

Clotho: “César…”/ Láquesis: “Filho…”/ Atropos:”Duma bacante!”

A questão pertinente que fica é, o que aconteceu com as Fates? Viraram churrasquinho ou ainda estavam vivas no mundo normal? E teria sido obra delas mesmas o fato de Gabrielle e Xena se encontrarem naquela realidade, já que duas temporadas antes Naiyima havia dito que o Karma era o responsável por elas estarem ligadas por muitas vidas? No fim de tudo, os acontecimentos do Xenaverse eram regidos por uma mistura de fatores… Ora pelo Destino, ora pelo Karma e ora pelas ações das personagens que faziam se realizarem os acontecimentos das próprias vidas.

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