A sonoplastia de Xena
Por Mary Anne
Xena Warrior Princess se tornou uma série única e com grande destaque por vários motivos. Alguns dizem ser a mistura de estilos, a ousadia em “quebrar regras”, a salada mitológica, ou ainda as beldades que apareceram na tela por 6 anos chutando as bundas de marmanjos e bitches.
Seria difícil definir qual foi o elemento X (sem trocadilhos) responsável pelo destaque, mas vale afirmar que se apenas um deles fosse retirado, a série não seria o que foi. E um desses elementos importantes que contribuiu para a formação de Xena, foi sua sonoplastia.
Sabe aquele som típico de movimento? O famoso “whoosh”? Adorado por uns, odiados por outro que o consideram brega e tosco, todos tem que convir que XWP sem whoosh não é a mesma série. Assim como o som das armas batendo, o som do chakram ricocheteando e tantos outros que fazem essa salada sonora que a série se tornou.
Foi no episódio Callisto que a equipe produtora passou a tomar um cuidado mais especial com a sonoplastia de Xena. Numa discussão entre Bernadette Joyce, Liz Friedmann e os técnicos da Digital Sound and Picture, Jason Schmid e Tim Boggs, chegou-se num acordo que a introdução de uma nova vilã da série devia ser marcante e uma das ferramentas para isso estava nos sons que a rodeariam.
O crepitar das fogueiras, os gritos de aldeões, o galopar dos cavalos… Tudo era cuidadosamente trabalhado para tornar Xena não apenas um conjunto de imagem e enredo, mas uma verdadeira experiência de sensações.
Às vezes os sons estão lá e até nos passam despercebidos, mas se fossem retirados as cenas perderiam 50% da graça. Quem não se lembra de Gabrielle “maltratando” o nariz de Joxer no episódio Callisto?
Basicamente, os únicos sons originais das filmagens mantidos eram os diálogos, e mesmo eles muitas vezes precisavam ser refeitos em estúdio devido a interferências da natureza como vento, trovões ou barulho de veículos próximos e aviões passando.
De acordo com Joyce “A redublagem é difícil para os atores porque você tem duas coisas pra lidar: Uma é a sincronia e a outra é a performance. É muito difícil conseguir aquela espontaneidade e emoção que se tem na produção entre as quatro paredes de um estúdio com um microfone.”. Daí já dá pra ter uma idéia de porque nossos dubladores brasileiros merecem tanto reconhecimento né?
Em Xena, um grupo de 4 ou 5 artistas de som eram responsáveis pelos mais variados efeitos, como bater de asas, barulho de tecido voando ao vento, cavalgar, batidas, metal de espadas tinindo e o famoso WHOOSH das cenas de ação, o qual era feito com nada mais nada menos do que uma varetinha de bambu.
Mas por que WHOOSH? O som foi produzido especialmente para ecoar os movimentos de produções de Hong Kong, sim, aqueles de artes marciais onde mãos e pés são armas letais e fazem muito barulho em cena.
Um exemplo disso pode ser visto no vídeo:
A propósito, as cenas lembram de algo?
Bernadette Joyce explica aos fãs: “Por Xena não ter os superpoderes e a força de Hércules, nós adicionamos whooshes pra acelerá-la. Ou se alguém está prestes a ser morto e ela vira a cabeça pra salvá-lo, nós também colocamos um whoosh. Nós não colocamos whooshes pra qualquer coisa, mas fazendo em momentos chaves ou quando é necessário fazê-la parecer mais rápida e forte”.
Em algum ponto da segunda temporada, temendo banalizar o som, os produtores concordaram em diminuir sua incidência, guardando-o apenas para momentos mais dramáticos, mas nos fóruns de internet da época surgiu a conversa de que “Xena começava a soar como as outras séries” o que causou entre os técnicos de som um longo debate de “usar ou não usar o whoosh”.
Um dos mais complexos efeitos sonoros de Xena, sem dúvida foi o som do chakram enquanto corta, bate, ricocheteia e faz todas suas peripécias. Ele é uma mescla de cerca de 50 a 60 sons diferentes, modificados em velocidade e som. Entre os mesmos, até mesmo o som de bombinhas (conhecidas como traques) e pasmem, até gritos de lêmures.
O processo de mixagem de diálogo, música (sob a responsabilidade do mestre Lo Duca) e toda essa parafernália de sons durava cerca de três dias para cada episódio.
Uma curiosidade um pouco engraçada são os murmúrios de multidão de extras, como por exemplo a multidão de Sins of the Past ou até mesmo a platéia de Here She Comes miss Amphipolis. Quem acha que o burburinho não compreensível que todo aquele povo fazia tinha algum sentido, engana-se. Se tratava apenas de algumas palavras específicas repetidas aleatóriamente como “walla, walla, walla” ou “rubarb”.
Era crença geral entre os produtores que o som certo ou a música certa poderia melhorar (ou até salvar) qualquer cena. Um exemplo disso era quando eles filmavam algo em cima da hora e alguma cena não saia exatamente como era pra ser, e Tapert, despreocupado, apenas diziam “Deixa pra lá, o Lo Duca dá um jeito nisso”.
E a gente não pode concordar mais!
Bibliografia:
WEISBROT, Robert. The Official Guide to the Xenaverse. Double Day: New York, 1998.
One Comment
Mára
Manifestação dos LEMURES por um salário melhor !!! DEMAISSSSSSSSS !!!
Fiquei impressionada que o que se dizia nos foruns importasse para os técnicos e produtores o que mostra que eram ligados nos fãs desde o início . Talvez este fosse o grande diferencial da série afinal, produzir preocupado com as pessoas e para as pessoas e não apenas empurrar produtos.
Gosto muito desta habilidade que tens de ilustrar teus artigos com exemplos fotográficos ou videográficos [de novo eu fico assim… existe esta palavra???]
Isso do que a multidão fala… eu gostaria de ver aqui num videozinho (preguicinha de procurar – tu ta deixando a gente mal acostumada) mas vou prestar atenção agora. Muito obrigada pelo artigo. Parabéns.