[Tradução] Xena Warrior Princess faz 30 anos.
Artigo original postado pelo NPR, assinado por A. Martinez.
Em 4 de setembro de 1995, “Xena: A Princesa Guerreira” estreou na TV aberta. Lucy Lawless, a estrela da série, e Rob Tapert, seu marido e cocriador de “Xena”, falam sobre sua popularidade e legado.
A MARTÍNEZ, APRESENTADOR:
Há trinta anos, um novo programa de fantasia liderado por mulheres começou a conquistar a televisão aberta.
MARTÍNEZ: Esse é o grito de guerra de “Xena: A Princesa Guerreira”. A série foi um spin-off de “Hércules: As Jornadas Lendárias”, e não demorou muito para que Xena superasse a audiência de Hércules na TV. A estrela de “Xena”, Lucy Lawless, não ficou nem um pouco surpresa.
LAWLESS: Para ser sincera, eu era tão inexperiente que pensei que, com certeza, seria um sucesso.
(RISOS)
LAWLESS: Eu simplesmente pensei que era isso que acontecia naturalmente.
MARTÍNEZ: E foi isso que aconteceu. Lucy Lawless e seu marido, Robert Tapert – produtor executivo da série – vêm da Nova Zelândia para relembrar como “Xena” encontrou seu público.
Vocês tiveram um período de consolidação como série?
LAWLESS: Acho que estávamos gravando o episódio 8 quando começamos a receber notícias do The Village Voice, tipo, e eles estavam aclamando os personagens como ícones gays, e Renee e eu nos divertimos muito lendo isso na lateral do set, pensando: “Você já viu?”. Bem, sabe (risos), tipo, “Isso é incrível”. Sabíamos que tínhamos alcançado o sucesso porque a comunidade gay e nossos fãs também eram particularmente antenados na internet logo no início, em 1995, e isso simplesmente pegou com o surgimento dessa tecnologia, uma fome por séries lideradas por mulheres – tudo se alinhou.
MARTÍNEZ: Sim, e aquele relacionamento entre Xena e Gabrielle – Gabrielle interpretada por Renee O’Connor – em muitos aspectos, foi controverso. Em outros espaços, como você mencionou, Lucy, era um ponto de orgulho. Parecia que você inicialmente pensava: de onde vêm essas ideias? Mas, quer dizer, elas estavam lá — e foram intencionais?
ROB TAPERT: Não, na verdade não. Certamente não no início da série, porque o estúdio era tão inflexível que a série não fosse percebida como tal, que não deixariam Lucy ou Renee na mesma cena na sequência de abertura. Mas o público acabou interpretando o que queria, o que foi interessante porque eles nunca presumiram que Hércules e Iolaus eram gays. E então, quando ouvimos isso, começamos a ir aos poucos. Mas sempre foi pensado para ser uma série que funcionasse para todos os públicos. Então, tinha que andar na corda bamba, que é: algumas pessoas entendem e outras não.
MARTÍNEZ: Bem, como você mencionou, Rob, são duas mulheres em um relacionamento muito próximo. Quer dizer, embora, você sabe, as coisas sejam insinuadas — pelo menos da forma como os espectadores as percebem — mas para quem exatamente eram esses temas, você acha?
TAPERT: Em primeiro lugar, era contar uma série de aventura que fizesse o público sentir algo, e não necessariamente sobre sexualidade, mas mais sobre um personagem em busca de redenção.
LAWLESS: E o efeito que isso teve no público, as mensagens que eles transmitiram, não poderíamos ter previsto. E não me refiro apenas a, tipo, se elas eram lésbicas, porque você não pode controlar a mente das pessoas, sabe?
MARTÍNEZ: Sim. Acho que sim, é assim que funciona. Você expõe uma arte ao mundo e nunca sabe como as pessoas vão reagir a ela.
LAWLESS: Sim, exatamente.
MARTÍNEZ: Hoje, essa história não chamaria a atenção, certo? Quer dizer, houve momentos em que você se preocupou que talvez a emissora estivesse um pouco sensível demais em relação ao relacionamento e à relação implícita entre as duas como casal? Isso era algo com que você se preocupava quando escrevia as histórias?
TAPERT: O estúdio era bem discreto. Sabíamos que queríamos ser uma série transgressora e queríamos que “Xena” ultrapassasse os limites naquela época. Mas em 1995 – e não faz tanto tempo assim, mas era um mundo diferente – tivemos uma série de ex-namorados em Xena nos primeiros sete episódios, todos homens não brancos. Então, estávamos ultrapassando os limites raciais no início, e eventualmente a sexualidade entrou em cena.
MARTÍNEZ: É. Deixa eu te perguntar, tipo, no último episódio, a cena da transferência de água.
MARTÍNEZ: Então, Xena está em uma batalha. Ela se machuca a ponto de precisar de água de uma fonte mágica para recuperar as forças. Ela não consegue chegar lá, mas Gabrielle consegue, e ela não tem outra maneira de carregar a água, a não ser levando-a na boca e dando para Xena. Isso se tornou um grande momento na história de “Xena”, eu acho, porque se tornou, tipo, o primeiro beijo de verdade aos olhos de muitas pessoas. Chegando naquela parte de filmar aquela cena, vocês duas perceberam o impacto que aquela cena teria nos fãs – e talvez nas pessoas que não gostaram muito da série por causa dos temas semelhantes?
LAWLESS: Não. Para nós, foi tipo, ah, essa é a história. É isso que estamos fazendo hoje. Nunca pensamos no impacto em ninguém. Rob, o que você acha?
TAPERT: Eu… bem, na verdade, porque eu estava lá dirigindo o episódio final, Lucy e Renee meio que pensaram: “Tudo bem, finalmente chegamos aqui”. Então, elas sabiam exatamente do que se tratava aquele momento.
LAWLESS: Ah.
TAPERT: Então…
LAWLESS: Certo, esqueci (risos).
TAPERT: Sim, foi muito…
TAPERT: …Vamos finalmente dar aos fãs o que eles pedem.
MARTÍNEZ: Vocês duas vão a alguma das convenções que acontecem? Eu sei que tem uma em Burbank, Califórnia, a Xenacon. Quer dizer, vocês duas…
LAWLESS: Sim.
MARTÍNEZ: …Já comparecem a alguma dessas coisas?
LAWLESS: É a única que eu vou. E eles fazem muito por caridade, então nós fazemos por caridade, esse evento.
MARTÍNEZ: O que você ouve das pessoas quando vai lá? O que elas dizem sobre como se sentem em relação à personagem e a você na série?
LAWLESS: A noção predominante é que esta série me libertou para ser mais eu mesma, seja… muitas pessoas lutaram contra a situação em que cresceram — talvez doença, enfermidade — e isso lhes deu coragem. Elas pegaram essa noção de que sou uma pessoa imperfeita que merece ser fabulosa, e tornaram isso realidade em suas vidas, e pareciam agradecer a mim e à série por isso, embora eu estivesse apenas dizendo as palavras de outra pessoa, na verdade.
MARTÍNEZ: Não, mas você não se dá o devido crédito, Lucy (risos). Quer dizer, você é a personagem-título. Você é a imagem que as pessoas vão lembrar para sempre. E foi a sua representação artística que tornou esta série tão memorável. Então, quer dizer, eu odeio te dizer isso, mas…
LAWLESS: Ah, tá.
MARTÍNEZ: …Mas, qual é, sinta-se bem com o que fez.
LAWLESS: Ah, é. Sabe de uma coisa? Eu, uma vez, tive essa percepção. Já esqueci, mas – porque a minha vida – eu não vivo no passado.
MARTÍNEZ: É.
LAWLESS: Sabe, eu não penso em nada – quando está feito, é passado. Mas eu também – eu simplesmente tirei muito proveito disso. Estou honrada. Estou honrada por ter feito parte de algo que fez tanto bem para as pessoas em suas vidas.
MARTÍNEZ: Esses são Lucy Lawless e Rob Tapert. Obrigada, vocês dois, por relembrarem comigo sobre “Xena: A Princesa Guerreira”.
LAWLESS: Ah, obrigada por nos receberem.
TAPERT: Foi um prazer. Muito obrigado. E a todos os fãs do programa, ficamos muito felizes que tenham assistido.
