
[Tradução] Trinta anos depois, “Xena: A Princesa Guerreira” continua de pé
Artigo Original postado no The Bulwark, assinado por Cathy Young.
Tradução por Mary Anne M.W.
A icônica série de fantasia liderada por Lucy Lawless ainda tem legiões de fãs leais.
TRINTA ANOS ATRÁS, em 4 de setembro de 1995, um novo tipo de heroína surgiu nas telas de televisão americanas. Ela surgiu da névoa, uma guerreira assombrada por memórias sombrias que revivia enquanto cavalgava por uma vila devastada. Determinada a deixar seu passado violento para trás, ela enterrou suas armas e armadura — e então foi prontamente chamada de volta à ação quando viu um bando de bandidos aterrorizando um grupo de prisioneiros inocentes. Ela lutou contra esses bandidos vestindo apenas sua camisola, usando seus punhos e botas e, em seguida, suas armas recuperadas, sorrindo de satisfação enquanto derrubava seus oponentes. Ao final do episódio, ela enfrentou uma multidão enfurecida em sua própria vila, onde as pessoas a viam como uma criminosa perigosa, e conquistou a gratidão dessas mesmas pessoas ao lutar e derrotar um senhor da guerra para salvá-los, e ganhou uma amiga e companheira de viagem — uma aldeã idealista em busca de uma vida melhor.
Ela era Xena, a Princesa Guerreira — a personagem-título de uma série que duraria seis anos e 134 episódios, se tornaria um sucesso cult e angariaria um fandom internacional. A narração dos créditos terminava com: “Sua coragem mudará o mundo”. Isso certamente se aplicava a Xena em seu universo ficcional, vagamente baseado na Grécia e Roma antigas, com desvios para o Oriente Médio, Norte da África, China, Ilhas Britânicas e muito mais. No mundo real, muitas pessoas sentiram que Xena: Princesa Guerreira havia mudado suas vidas. Também teve um impacto transformador na cultura popular.
Xena, interpretada pela atriz neozelandesa Lucy Lawless, fez sua primeira aparição em um arco de três episódios em outra série, Hércules: As Jornadas Lendárias, que foi ao ar vários meses antes da estreia de Xena. Ela era uma “princesa guerreira” — aparentemente, o equivalente feminino de “senhor da guerra” — que partiu, sem sucesso, para matar Hércules, depois entrou em conflito com seu próprio exército após salvar um bebê durante um ataque a uma vila e se juntou a Hércules como sua aliada e amante antes de partir em sua própria busca por redenção. Embora essa versão inicial da personagem de Hércules tenha sido escrita de forma irregular — Xena era mais uma sedutora com sérias habilidades de luta no primeiro episódio, uma guerreira sombria, mas basicamente honrada, no segundo —, o estúdio ficou suficientemente impressionado para dar sinal verde para um spin-off. Em pouco tempo, o spin-off ofuscou a série original, para grande frustração do astro de Hércules, Kevin Sorbo.
Hércules era uma série de aventura divertida e exagerada que atraía tanto crianças quanto adultos, um produto dos dias de glória da televisão aberta — assim como Xena. Mas, devido ao passado vil da heroína (no qual adquiriu o apelido de “Destruidora de Nações”) e ao seu fardo de culpa e conflitos internos, Xena era mais sombria e complexa desde o início — e se tornou ainda mais complexa à medida que a série avançava. Enquanto Hércules nunca matou nem mesmo o pior dos malfeitores, Xena e sua amiga e companheira Gabrielle às vezes tiveram que lidar com a consciência de que suas ações custaram vidas inocentes. Em um exemplo marcante dos cinquenta tons de cinza moral de Xena, uma de suas principais inimigas recorrentes, a guerreira Calisto (Hudson Leick), era uma assassina implacável cuja vingança contra Xena lhe dava um direito real de simpatia: antigamente, os pais e a irmã de Calisto morreram em um incêndio devastador que começou quando Xena e seu exército invadiram sua aldeia.
Xena também se destacou como uma série de ação/aventura centrada em mulheres, com uma heroína única. Ela não tinha um sistema de apoio masculino nem poderes mágicos ou sobrenaturais. (Algumas ideias iniciais sobre atribuir a ela uma origem divina foram rejeitadas, em parte, para evitar qualquer sugestão de que essa fosse a razão de sua formidável destreza como guerreira.) Ela tinha os traços clássicos do herói masculino — feroz e destemida, estoica, autossuficiente, direta, impetuosamente confiante em sua força e habilidade —, mas também era gloriosamente e assumidamente feminina. “Não há nada parecido na televisão”, disse Lawless em um dos primeiros comerciais — e ela estava certa.
Xena podia se sujar e suar em uma luta; ela também podia trocar sua armadura por um vestido simples (e ficar deslumbrante), depois cortar as laterais da saia para que não atrapalhasse e dar um chute memorável nos vilões do momento. Na estreia da segunda temporada, “Orphan of War”, ela falou de forma comovente sobre seu vínculo duradouro com a criança que havia doado ao nascer para lhe dar uma chance de uma vida pacífica: “Muitas pessoas pensam que o parto termina quando o bebê respira livremente pela primeira vez. Não é verdade. Meu filho cresceu dentro de mim a cada dia, cada vez mais forte.” Mais tarde, em uma história que surgiu da gravidez real de Lawless durante a quinta temporada, Xena teve outro bebê — na tela — e se tornou a primeira heroína de ação do mundo a ter que interromper a amamentação para se defender de agressores, com uma piada pronta: “Toda vez que você se senta para comer…”
Além da própria Xena, Xena: A Princesa Guerreira ostentava uma notável galeria de personagens femininas — heroínas, vilãs ou ambos. Gabrielle (Renée O’Connor) seguiu sua própria jornada de heroína, evoluindo de uma jovem ingênua que sonhava em ser guerreira e poetisa para uma lutadora quase igual a Xena (mas a um preço trágico). Havia a sábia chinesa e antiga mentora de Xena, Lao Ma (Jacqueline Kim), revelada como a verdadeira autora dos textos taoístas atribuídos a Lao Tzu (que também pode ser mítico, então por que não?). Havia Najara (Kathryn Morris), uma guerreira e líder religiosa cuja luta pelo bem revelou ter um lado mais sombrio de fanatismo sectário. Havia guerreiras e rainhas amazonas cujas tribos não eram utopias femininas idealizadas, mas sociedades com suas próprias lutas de poder, conflitos e líderes falhos. Mas, embora fosse protagonizada por mulheres, a série também apresentava uma rica gama de personagens masculinos, notavelmente Ares (Kevin Smith), que evoluiu de um adversário carismático que buscava atrair Xena de volta para o lado negro para um complexo “inimigo” e interesse amoroso com seu próprio potencial de redenção; Joxer (Ted Raimi), um aspirante a guerreiro desajeitado cuja inépcia cômica mascarava o que Xena certa vez chamou de “coração de leão”; e, nos flashbacks, o antigo amante e companheiro de guerra de Xena, Borias (Marton Csokas), que primeiro lhe mostrou o caminho para sair da escuridão questionando sua busca por poder e riquezas e arriscando tudo pelo futuro de seu filho.
Era uma série feminista? Sim, no melhor sentido de ter as mulheres no centro e mostrá-las tão plenamente humanas quanto os homens: heroicas e imperfeitas, fortes e fracas, capazes do bem e do mal. Mas nunca fez do bem e do mal uma questão de gênero, e nunca teve uma mensagem contundente de empoderamento feminino. Xena e Gabrielle não lutaram contra o patriarcado, mas o ignoraram — o que, admito, foi facilitado pela forma como a série o eliminou, uma decisão criativa muito no espírito “pós-feminista” dos anos 1990. Como a atriz convidada Jennifer Sky, que interpretou a jovem amazona Amarice na quarta e quinta temporadas, resumiu sucintamente em uma homenagem de 2013: “Gênero não era relevante no Xenaverso. Lá, uma menina ou um menino podia ser um senhor da guerra ou um fazendeiro, um bardo ou um desajeitado precisando de proteção.” Nesta versão fantástica do mundo antigo, a Princesa Guerreira podia assumir o comando de um exército ou a defesa de uma cidade sitiada, sem que ninguém questionasse a capacidade de liderança de uma mulher. Isso não é tanto historicamente impreciso, mas simplesmente despreocupado com a realidade histórica: a precisão nunca seria o objetivo principal de uma série cuja heroína pudesse conhecer o Rei Davi, Sófocles e Cleópatra (e ter Júlio César, interpretado por Karl Urban, de Star Trek, como seu antigo amante e atual arqui-inimigo).
“Fiquei chocada quando a revista Ms. divulgou que [Xena] era um ícone feminista”, disse-me Lawless em uma entrevista recente pelo Zoom, “porque o feminismo para mim era algo que pertencia a uma era passada”. Em parte, ela diz, agora vê essa atitude como resultado da ignorância — uma falha em perceber até que ponto ela foi beneficiária de gerações anteriores de feministas na Nova Zelândia, o primeiro país a conceder a todas as mulheres o direito ao voto, em 1893. Mas a ideia de que gênero não é um obstáculo é algo que Lawless ainda vê como formativo em sua vida. “Meus pais esperavam tanto de mim quanto dos meus irmãos, que eu pudesse fazer o que quisesse”, ela me disse — e talvez seja por isso que ela foi a protagonista perfeita para uma série construída em torno da mesma ideia.
SE A SÉRIE TINHA UMA MENSAGEM de empoderamento, era, acima de tudo, sobre redenção: como Lawless resume: “Sim, você é imperfeita, mas merece amor… você tem valor”. Essa, ela acredita, é uma das razões pelas quais a série desenvolveu uma legião de fãs tão apaixonada que atraiu muitas pessoas que cresceram lutando com problemas pessoais ou lidando com a vergonha — incluindo muitas pessoas que “se sentiam marginalizadas”. Fãs lésbicas que achavam ter visto um romance entre Xena e Gabrielle, duas mulheres que viajavam juntas e eram intensamente devotadas uma à outra, eram, sem dúvida, o grupo demográfico de fãs mais conhecido; mas Lawless ressalta que havia muitos outros, incluindo mulheres afro-americanas.
Naqueles primórdios da internet, Xena tinha uma vida online agitada em salas de bate-papo, fóruns e sites de fãs que hospedavam de tudo, desde fanfics a ensaios quase acadêmicos (“O Mito do Redentor em Xena: A Princesa Guerreira”, por exemplo), além de convenções movimentadas. O fandom era um lugar onde muitas pessoas encontravam entusiasmo, amizade e criatividade. Mas também podia ser contencioso, especialmente quando a série começou a explorar o subtexto lésbico, às vezes transformando-o em um jogo de “eles são ou não são”. No entanto, a série também se inclinava descaradamente para a tensão sexual latente e os sentimentos complexos entre Xena e Ares, uma dinâmica contínua que excitava muitos no fandom e, em algumas ocasiões, trouxe um interesse romântico masculino passageiro (como Marco Antônio — você sabe, aquele de “e Cleópatra”). Brigas online inevitáveis se seguiram. Os fãs podem se tornar bastante “territoriais”, diz Lawless: “Aprendi cedo a não ficar bisbilhotando fóruns de bate-papo”.
Em uma entrevista em 2003, dois anos após o final de Xena, Lawless relembrou que o rancor dos fãs no final da série a afetou bastante, principalmente porque grande parte dela era direcionada ao seu marido, Robert Tapert — que também era o produtor executivo de Xena. “Eu sentia que havia algumas pessoas por aí… que eram tão malévolas e maliciosas que obscureciam todo o resto”, disse ela à revista neozelandesa Metro. As coisas provavelmente ficaram ainda mais feias depois do final da série, em que Xena sacrificou sua vida em uma aventura no Japão para expiar mais um erro do passado e Gabrielle navegou de volta para a Grécia sozinha; pela primeira vez, a raiva nos fóruns pode ter unido todas as facções do fandom.
Mas isso foi há quase 25 anos. Os fãs de Xena que ainda estão ativos hoje, Lawless me disse, são “pessoas maravilhosas”, alguns dos quais estão lá desde o início e alguns dos quais são novos. Enquanto isso, diz Lawless, “os trolls sumiram e passaram a, sei lá, assistir a reality shows ou algo assim”.
A questão “eram ou não eram” ainda surge, junto com alegações de que a questão foi definitivamente resolvida. Em retrospecto, a resposta de Lawless é que a resposta não deveria ser importante: “Se eles reiniciassem Xena, se a tornassem gay e ela e Gabrielle se beijassem toda semana — e daí? Ainda não é [a essência] da série, assim como não importa se o bombeiro que está apagando sua casa é gay. Ainda é sobre algum tipo de jornada interior — sua sexualidade não importa.”
E, de fato, para legiões de fãs, Xena ainda é, antes de tudo, uma guerreira em uma jornada. “O que eu mais amo é como Xena mistura força, humor e coração. Ela é feroz, cheia de falhas e uma guerreira incrivelmente humana — e eu me vejo nesse espírito guerreiro”, escreveu-me Tracie Sillers, gerente financeira e fã ainda ativa em Sydney, Austrália, por e-mail. O espírito guerreiro e a luta pelo “bem maior” podem se manifestar de muitas maneiras no mundo real de hoje. Para Sillers, isso se reflete nos desafios de ser mãe de uma criança com deficiência.
A história pessoal de Sillers reflete a de muitos fãs que mantêm a chama acesa. Ela se viciou na série pela primeira vez quando jovem adulta, na década de 1990 — era, segundo ela, a única série com a qual ela e o irmão concordavam. Quando começou a assistir às reprises, mais de uma década depois, “a chama da guerreira reacendeu”. Desta vez, Sillers não só se juntou ao fandom online, onde encontrou “alguns amigos incríveis para a vida toda”, como também começou a frequentar convenções e até a fazer cosplay de Xena.
Alguns fãs antigos que ainda amam a série agora estão trazendo seus filhos para o grupo “Xenite” — e, aparentemente, as crianças de hoje ainda conseguem amar Xena mesmo sem efeitos especiais de última geração. (Em nossa entrevista, Lawless sentiu-se compelido a se desculpar, rindo, por uma cena de um dos primeiros episódios, que apresentava um pássaro gigante extremamente falso e enormes ovos verdes que… ah, deixa pra lá.) Os efeitos práticos e as acrobacias têm seu charme: “Eu realmente gosto de Xena por todos os seus temas interessantes, e também pela autenticidade dela e por não haver muito CGI, o que significa que a cena cuspindo fogo é real e a casa queimando é real”, escreveu-me a filha de 11 anos de uma amiga, que assistia à série com a mãe e o irmão mais velho, quando descobriu que eu estava escrevendo sobre o aniversário de Xena. “E sim, é meu programa de TV favorito.”
Claramente, Xena continua viva.
XENA: WARRIOR PRINCESS era uma série repleta de ação, com sequências de luta frequentemente brilhantemente coreografadas, influenciadas por filmes de ação de Hong Kong; Lawless e O’Connor realizaram muitas de suas próprias acrobacias.1 Mas também era muito mais do que isso. Xena tinha alguns diálogos memoráveis que combinavam drama com humor mordaz, como quando Callisto, fazendo sua estreia na série, disse a Xena: “Como vilã, você foi incrível. Como heroína, você é uma tola sentimental.” As histórias se baseavam em mitologia, história, literatura e cinema — tudo, desde o mito grego de Orestes até a rivalidade entre César e Pompeu no final da república romana, passando por It’s a Wonderful Life e The Producers.2 Chegou a lugares tão criativos quanto um episódio musical ambientado em um mundo mágico com cenários e figurinos baseados em cartas de tarô. E conseguiu explorar temas profundos e complexos — como a sempre relevante questão de como manter a humanidade em uma guerra na qual, nas palavras de Xena, “não há boas escolhas, apenas graus menores de maldade”3 — sem se levar muito a sério. O drama intenso quase sempre vinha acompanhado de humor peculiar — e, muitas vezes, de uma boa dose de pieguice.4
Também havia visuais deslumbrantes que mais do que compensavam os efeitos especiais piegas: as exuberantes paisagens da Nova Zelândia servindo como Grécia, Grã-Bretanha ou China antigas,5 os figurinos deslumbrantes da subsequente vencedora do Oscar Ngila Dickson. Havia a rica música de Joe LoDuca, que ganhou um Emmy em 2000 e recebeu outras seis indicações. Mas, acima de tudo, o poder da série se devia aos atores e à emoção que eles conseguiam transmitir à tela. Lawless não era apenas carismática, sexy e — apesar de não gostar de cenas de luta — crível como uma mulher fisicamente poderosa; ela também tinha uma capacidade notável de se inserir na pele da personagem. E não apenas um personagem: além de histórias cômicas com três sósias de Xena e um episódio ambientado na década de 1940, no qual Lawless interpretou um descendente nerd e afetada de Xena, um episódio notável da 2ª temporada teve uma troca de corpo entre Xena e Callisto, interpretada de forma impressionante por Lawless e Leick.
Talvez nunca Xena tenha sofrido uma injustiça maior do que quando um artigo inicial do New York Times sobre seu sucesso estrondoso descreveu a heroína como tendo “apenas duas expressões básicas: um sorriso de desprezo pelos homens tolos o suficiente para desafiá-la e um olhar duro e resoluto”. Só podemos imaginar quanto da série o escritor já tinha visto. Sim, os olhares de escárnio e as encaradas estavam lá, mas também os sorrisos, os olhares ternos, os momentos de vulnerabilidade pungente. Poderíamos olhar para as cenas de Xena com seu filho, que não faz ideia de que ela é sua mãe, ou para “One Against an Army” — um favorito dos fãs em que Xena tenta impedir a invasão da Grécia pelo exército persa enquanto está presa em uma cabana com uma Gabrielle desesperadamente doente — para episódios em que vemos tanto a fúria quanto a gentileza. O dela era “um rosto de onde todas as emoções simplesmente transbordavam”, me disse a ex-presidente do Fã-Clube de Xena, Sharon Delaney, em uma entrevista pelo Zoom. É uma descrição adequada. (Delaney diz que começou a assistir à série apenas por causa de seu trabalho na Creation Entertainment, que adquiriu os direitos de licenciamento de Xena logo após o lançamento da série, mas se viciou depois que os dois primeiros episódios que assistiu a fizeram chorar.)
Lawless também teve uma química rara com O’Connor, que interpretou com naturalidade a inocência infantil e jovial de Gabrielle e seu entusiasmo efervescente desde o início, mas também transmitiu com eficácia sua evolução posterior. Entre o elenco de apoio, podemos destacar Leick — uma Callisto engraçada, assustadora e, às vezes, simpática — como uma excelente atriz que deixou de atuar depois de Xena, e Smith, um ator notavelmente versátil que deu ao Deus da Guerra tanto humor quanto uma humanidade surpreendente (e que morreu tragicamente em um acidente em um set de filmagem na China, cerca de seis meses após o término da série).
Mesmo os fãs mais dedicados de Xena inevitavelmente, e às vezes duramente, criticarão alguns aspectos da série. Embora as três primeiras temporadas sejam consideradas o período “clássico” (a terceira temporada, em particular, é frequentemente vista como sua era de ouro), as três últimas foram muito mais divisivas. Houve histórias que levaram a série a novas direções e foram amadas por alguns espectadores e odiadas por outros: um arco da Índia com gurus místicos e temas de reencarnação que terminou com Gabrielle se tornando pacifista; uma visão profética de crucificação que assombrou a quarta temporada; um arco da quinta temporada em que o declínio do paganismo e a ascensão do monoteísmo se desenrolaram como um crepúsculo literal dos deuses gregos, com Xena e seu novo bebê no centro; a história de Xena/Ares que culminou com o Deus da Guerra sacrificando sua divindade por amor; o declínio e, finalmente, a quase extinção das Amazonas. Adicione a essas questões temáticas mais sangue explícito e mais conteúdo sexual (na 6ª temporada, alguns consideraram que a série estava se desviando para a exploração sexual), e deve ficar claro o quanto os diversos segmentos do fandom tinham do que reclamar. E, no entanto, mesmo para os descontentes, sempre havia personagens, cenários e enredos para amar.
Quase um quarto de século após o final, o fandom de Xena teve algumas decepções. Embora houvesse rumores de um filme de Xena no início dos anos 2000, que muitos fãs esperavam que trouxesse Xena de volta dos mortos (o que não é incomum no Xenaverse), isso nunca se materializou. O fandom em si inevitavelmente diminuiu desde o auge da série, quando às vezes havia duas ou três convenções de Xena por ano e havia um fluxo constante de produtos, desde fotos, cards colecionáveis e camisetas até um calendário oficial anual de Xena. Mesmo assim, as convenções ainda acontecem — uma foi realizada em Burbank, Califórnia, em fevereiro passado, a próxima será em Nova Jersey em outubro de 2026 — e grande parte do elenco da série ainda participa fielmente, com Lawless e O’Connor sempre como atração principal.
Enquanto isso, Lawless teve uma carreira de sucesso pós-Xena, encontrando papéis em Battlestar Galactica, Spartacus e Parks and Recreation. Ela agora estrela e é produtora executiva da série australiana/neozelandesa de comédia/drama/mistério sobre assassinato My Life Is Murder, que acompanha as aventuras de uma destemida e franca ex-detetive e consultora policial que tem como hobby assar pão de fermentação natural. Alguns acharam a personagem uma versão mais leve de Xena em seus momentos mais engraçados; Lawless não fez essa comparação, mas descreve a série como “muito divertida”, um escapismo em um mundo sombrio. (Ela achava que estava ficando muito sombrio em 2018, quando a série foi concebida. Ai!) Ela também se voltou para a direção, com o documentário Never Look Away — com lançamento previsto para novembro nos Estados Unidos — sobre a falecida fotojornalista e repórter de guerra/cinegrafista da CNN, Margaret Moth.
Lawless mantém-se firmemente comprometida com diversas causas de direitos humanos, incluindo o apoio a migrantes, desde os dias em que transformou seu status de ícone gay como estrela de Xena em apoio aos direitos gays, muito antes de se tornarem uma causa popular. Ela também defendeu o meio ambiente, chegando a ser presa em um protesto contra um navio petroleiro em 2012; suas visões progressistas levaram a pelo menos um confronto online com o ex-colega de elenco Kevin Sorbo; o ator de Hércules agora é um apoiador ferrenho de Trump.
E Lawless também é, acredite ou não, fã dos podcasts do Bulwark: imagine minha surpresa quando, enquanto trocávamos e-mails para marcar uma entrevista, Lawless escreveu: “Adoro o Bulwark. Assisto todos os dias no YouTube”. (Ela também elogiou podcasters individuais.)
Às vezes, o ativismo de direitos humanos de Lawless se sobrepõe ao seu trabalho no cinema: ela mencionou que havia concordado em fazer um documentário sobre a guerra na Ucrânia, infelizmente adiado por questões de segurança. E às vezes o ativismo, o trabalho no cinema e o legado de Xena se unem: quando mencionei a Lawless que uma das soldados mais celebradas da Ucrânia, a operadora de metralhadora Oksana Rubaniak — com destaque no documentário recente de Bernard-Henri Lévy, Our War — usa o sinal de chamada “Xena”, ela não ficou nem um pouco surpresa, dizendo-me que o programa “foi realmente grande naquela parte do mundo”. (A julgar pelos comentários em vídeos de fãs de Xena em ucraniano no YouTube, ainda é.)
E assim, a Princesa Guerreira continua inspirando heróis, em um momento em que parece que eles são mais necessários do que nunca. A frase dos créditos iniciais de Xena, “Uma terra sem lei clamava por uma heroina”, soa quase estranhamente oportuna. E, claro, nem todos os heróis usam espadas e armaduras: como o criador da série, Rob Tapert, colocou em um vídeo promocional pouco antes da estreia: “Xena é a heroína que esperamos que esteja dentro de todos nós”.
1
Sim, Lawless realmente cuspiu fogo, embora tenha desistido por considerá-lo muito perigoso; em um episódio, ela também teve que levar um balde cheio de ratos vivos. Só mais um dia no escritório!
2
Uma comédia/drama particularmente inventiva da 3ª temporada, “Been There, Done That”, mistura Feitiço do Tempo com Romeu e Julieta: viajando por uma pequena cidade com Gabrielle e Joxer, Xena se vê presa em um dia que se repete sem parar e finalmente percebe que ele vai parar quando ela encontrar uma maneira de salvar dois amantes de famílias rivais.
3
“The Price” (2ª temporada), que deu a Gabrielle um papel de “anjo da misericórdia”, baseado em um episódio da Guerra Civil Americana em que um sargento confederado cruzou um campo de batalha sob fogo para levar água a soldados feridos da União que clamavam por socorro.
4
A partir do início da 1ª temporada, cada episódio tinha um “aviso” irônico após os créditos finais (por exemplo, “A incrível capacidade de Xena de se recuperar de ferimentos devastadores não foi prejudicada durante a produção deste filme”).
5
Peter Jackson estava, ao mesmo tempo, usando as variadas paisagens da Nova Zelândia como fotografia principal para sua adaptação de O Senhor dos Anéis.
