Girl Power

5 - 7 minutes readA Garota que Esperou

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Surpreenderei o mundo agora. Pra quem assiste Doctor Who e conversa comigo não é novidade nenhuma a minha implicância com essa figurinha do Whovianverse, Amy Pond.

Por muito tempo vi ela como uma personagem “complicada”, e não tão gostável quanto as outras companions do Doctor. Tanto que ela seria a última na minha lista de companions a ganhar um Girl Power, mas devido ao fato do arco da personagem ter se encerrado nessa semana que passou e de ter me surpreendido (e eu não ter tido tempo de assistir a quarta temporada pra escrever algo digno da Donna), resolvi ceder e pra felicidade dos Amyzetes (oh, wait) e estou aqui promovendo a ruiva espevitada à GIRL POWER.

Outra questão é que falar de Amelia Pond é uma tarefa complicada, porque no Whovianverse,como o próprio Doctor nos explica, diferente do que as pessoas supõem, o tempo não é uma rígida progressão de causa para efeito, mas de um ponto de vista não linear é uma grande bola de “wibbly wobbly timey wimey stuff” (ou na tradução da Tv Cultura, uma grande bola de “um barato muito doido de espaço tempo coisado”). Dito isso, a história de Amy Pond consegue ser mais alinear do que das companions anteriores. Mas enfim, allons-y!

Spoiler à frente, estejam preparados.

Doctor Who é uma série de mudanças. Tudo muda, nada fica estagnado. Nem Doctors, nem Companions, nem monstros… exceto os Daleks, eles nunca desistem! Se despedir do Décimo Doctor foi duro, mas foi bastante interessante ver aquela nova cara, com um jeito mais palhaço que o Décimo Primeiro tem. E ao assistir o episódio Eleventh Hour e ver aquela coisa mega fofa da Amelia kid foi uma surpresa! O DOCTOR TERIA UMA COMPANION CRIANÇA!? Não. As pestes crescem e perdem a graça. Pelo menos foi essa a sensação que tive ao ter a fofinha Amelia sendo trocada pela Amy adulta e cheia de mimimi’s.

Mas falemos dela criança*, primeiramente:

Amelia nasceu na Escócia, e teve seus pais engolidos por uma rachadura na parede (sim, é o tipo de coisa que acontece em Doctor Who). Foi levada para a Inglaterra e criada por uma tia.
A rachadura na parede de seu quarto lhe acompanhou e um dia, aquela criança amendrontada rezou para que o Papai Noel mandasse um policial para investigar o problema, e foi aí que uma Cabine Policial caiu em seu quintal. Exceto que não saiu de dentro dela um policial, mas sim um excêntrico “homem maltrapilho” que ainda se ajustava ao seu novo corpo: O Eleventh Doctor.

O Doctor lhe convida para viajar com ele (apesar de ela ter apenas 7 anos), oportunidade que ela aceita e enquanto o Doctor faz uma “breve” parada no futuro, ela o espera ao lado de sua mala, no jardim. O problema é que o tempo é relativo, e o que era pra ser breve, foi um período de 14 anos.

Amy passou esse tempo (toda sua adolescência) idolatrando o seu “Doutor Maltrapilho”, criando jogos, bonecos, desenhos, tudo a ver com ele, e sendo olhada torto por seus amigos que consideravam que tudo não passava de uma ilusão da menina.

Depois de todos aqueles anos o Doctor volta e Amy finalmente embarca na TARDIS para viajar com ele, mesmo estando às vésperas do seu casamento com Rory Williams (uma espécie de Mickey 2.0 do Whovianverse, que Amy não respeita muito por assim dizer). Eventualmente, Rory também embarca nas aventuras, arrastado mais pelo Doctor do que pela própria Amy.

Pode-se dizer que por ter construído todos os seus sonhos de criança e de adolescente ao redor da figura do “Homem Maltrapilho”, Amy nunca levou muito “a sério”, ou como prioridade a sua vida normal. Depositando nele sua fé praticamente cega ela chega a confundir o que sente por Rory com o que sente pelo Doctor, e precisa passar por uma situação bastante tensa para saber separar as coisas.

Como disse acima, Amy não foi e não é minha companion preferida. Eu poderia discursar longamente e defender teorias e analisar atitudes, mas acho que posso resumir as coisas dizendo que o que me fazia gostar de Rose, Martha e Donna, é que elas eram o tipo de personagem que agia, movimentando a ação da narrativa, ao passo que Amy movimenta a ação de um modo mais passivo, fazendo as coisas girarem em torno dela. Ou seja, do ponto de vista teórico, ela não nasceu pra ser uma heroína. Isso somado aos traços egocêntricos que eu observo na personagem em diversas situações, fizeram com que eu criasse uma certa birra para com ela. Não me entendam mal. Eu costumo adorar personagens anti-heróis, até mesmo mais do que os heróis, desde que eles não tenham alguns traços de caráter que não convém eu comentar aqui.

Por outro lado, existe um lado que eu acho muito bonito na relação Doctor/Amy(e Rory). Amy tem sua fé cega no “Homem Maltrapilho”, ao passo que depois de um período de tanta escuridão emocional que o Tenth passou, o Eleventh precisava disso. Precisava ser olhado novamente por olhos inocentes que confiariam nele. Precisava de um recomeço em todos os sentidos, com a esperança de não desapontar alguém (mesmo que isso eventualmente aconteça), precisava de alguém para mostrar o mundo, para cuidar, e para consertar o que ocorre de errado. Aquele sentimento de ter um amigo e esse é um dos pontos mais bonitos da era “Moffat” na série, o laço de amizade que ele conseguiu passar na série, mesmo com os traços egocêntricos de Amy. Amizade incondicional, que espera, que perdoa, que ressuscita, que vai à guerra pelo amigo. Uma espécie de sentimento que existia entre Tenth e Donna (ainda que eu prefira esses), onde um pode ser bobo ao lado do outro, onde Amy pode ir aos confins do espaço e destilar seu crítico humor escocês nas coisas intergaláticas e onde o Doctor possa ser um pouco humano, comendo salgadinho de peixe com creme e jogando Wii na sala da casa de Amy.

E no final das contas, aqueles traços “díficeis” da personalidade de Amy, que eram bem justificáveis pela infância complicada e solitária que ela teve, acabaram se moldando em uma pessoa melhor e mais madura (como vemos nos episódios da sétima temporada), ou seja, ao passo em que ela ajudou a cicatrizar algumas feridas emocionais do Doctor, ele foi o médico que ela precisava para curar as suas também.

 

*uma curiosidade interessante é que as atrizes que interpretam Amy adulta e a pequena Amelia Pond são primas. Mas nenhuma delas sabia que a outra tinha feito o teste para o papel, antes de se encontrarem em set. 

 

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