Artigos

3 - 4 minutes readA Tão necessária guerra

Reader Mode

Chapo

 

“Justas, pois, são as guerras necessárias, e piedosas quando só nelas há esperança”¹

É raro assistir a um episódio de Xena em que a guerra não esteja envolvida. É também raro um momento sem conflitos entres os valores de Gabrielle e Xena. Mesmo na sexta temporada, quando Gabby já matava sem grandes pesares, Xena ainda tinha que trazê-la para a realidade.

Fato é, pois, que a guerra é sim necessária. Bons impérios, bons países, boas administrações só perduram quando bem armadas, quando bem protegidas. Do contrário não teríamos trancas e cadeados em nossas portas, bastaríamos mantê-las abertas na esperança de um inimigo cego.

Interessante, porém é a necessidade dessa barbaria. Nem sempre apreciada por muitos. Mas apoiada por todos quando dói no próprio calo. Ela não vem para o bem, mas para a vida.

Não estou ressaltando, de forma alguma, a beleza que a guerra possui. Pois beleza nela não há. 

Há, porém arte!

O que é a guerra senão a arte de se defender, mesmo antes do ataque?

O que é a liberdade senão desprender-se, mesmo que de inanimadas correntes?

Qual seria o valor de, hoje, andar pelas ruas em um país democrático e dizer o que pensa sem todas as mortes e sacrifícios de nossos ancestrais que foram necessários para se alcançar esse nível de política?

E nós hoje temos o prazer de reclamar pelos dias de eleições pela obrigação de trabalhar como mesário e nos deslocarmos de muito longe para ir votar. É realmente uma comparação justa…

Em Xena, após sua mudança para boazinha, ela não deixou de matar para alcançar o bem maior.  Krishna fez questão de ressaltar o caminho do guerreiro ao qual ela pertencia nos momentos que ela duvidava de seu norte para atingir o nível de benevolência da Mãe da Paz. Ela era a espada e a coragem que o mundo precisava para ter esperança na justiça. E ao longo da série, desde o primeiro até o último episódio, isso lhe era reafirmado.

Ainda que a justiça não fosse justa, ela é tudo que temos. E é preciso alcançá-la de alguma forma.

O caminho de Gabrielle era Xena. Era, portanto, o caminho da guerreira. A guerreira que continuaria o trabalho após a morte da guerreira. Claro, com o seu gracioso toque de bondade, que seria, a meu ver, a guerreira perfeita. Pois ela não sentia prazer em exercer essa função. Mais ainda, presumo, após a morte de Xena. Ela buscava somente a justiça.

“Lutador é aquele que briga só pelo prazer de brigar. O homem justo é aquele que briga porque é necessário”²

Os Gregos entendiam Ares como o próprio Estado. Sem Ares (portanto sem a guerra) não haveria Estado.

Em Xena isso é mais que provado, pois só ele possuía força suficiente para ir contra Dahak. Ou vocês acham que alguns sais de banho de Afrodite iam bastar? Nem toda a bondade de Eli era capaz de trazer a paz para a Grécia, Índia, Roma. Nem mesmo Ele conseguiu isso.

Para nós é cômodo pensar que, naquela época era fácil matar, afinal não possuímos valores cristãos e os guerreiros haviam perdido os Elíseos que lhes era ofertado quando atingida a glória. Ainda que a igreja santificasse os mesmos. Mas, e se hoje o medo lhe batesse a porta? E se hoje seu país lhe convocasse para ajudar nas defesas de suas tropas? Mesmo sem preparo, mesmo sem muito a oferecer. Será que seria mesmo injusto ofertar sua vida em prol da pátria?

Não seria, por demais, conveniente usar um governo corrupto como desculpa para se isentar de suas responsabilidades?

Imaginem se Xena ou Gabrielle pensassem assim? Onde iam parar a esperança e a paz que elas estabeleceram entre centauros e amazonas, para a horda, para Ítaca, Egito, Grécia e tantas pequenas aldeias, vilarejos e reinos. Imaginem como aquele mundo estaria pior. Como a escravidão, os abusos e as penas de morte seriam encarados ainda como justiça. Afinal de contas, há ou não males que vêm para o bem?

O fato é que a guerra vem, antes de tudo, para nos proteger, para nos libertar. E graças aos Deuses ela é tão terrível! Do contrário poderíamos gostar demais dela…

“ O principal objetivo da guerra, é a paz”³

 

 

 

  1. Tito Lívio (por Maquiavel Id. p245 e nota 193, p.270)
  2. Provérbio Japonês
  3. Sun Tzu

 

CHAPO

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *