Crônicas

3 - 4 minutes readMaternidade

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Aryane Mello

“Sempre essa louca obsessão por Xena!”

Acompanhar essa doce opinião da minha mãe sobre Xena é absolutamente frustrante. E além de frustrante, machuca, fere, incomoda, dói…
Mas por que tudo isso? Por que nos importamos tanto com o “sim” e o “não” delas? Por que não podemos simplesmente tapar os ouvidos e afirmar pra nós mesmos que o que ela está falando é uma loucura sem fundo de verdade?
A resposta é simples: ela é nossa mãe. E não há nada que podemos fazer para mudar tal realidade. Ela sempre vai ter poderes desumanos pra conseguir o que quer, pra escolher onde nos levar e apitar em tudo o que assistimos e ouvimos.
Sair de casa? Criar asas e voar? Ter seu próprio emprego? Pagar água, luz, telefone? Se relacionar com quem quiser? Trazer pra casa quem quiser? Deixar a louça de uma semana amontoada na pia da cozinha? Ser independente? Enfrentar o mundo sem aquele colo aconchegante e quentinho? Não poder correr pra baixo dos seus lençóis quando algum monstro nos atrapalha a dormir?
Gabrielle deixou sua casa e família em busca de exatamente isso! Parece que os desejos adultos não mudaram muito desde a época dos Deuses antigos.

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Na primeira oportunidade ela estava lá, dando milhares de motivos pra que Xena a levasse daquela cidadezinha sem atrativos. Foi fácil para a Barda? Não! Gabrielle fugiu de mala e cuia em uma noite fria, contando por pressão somente a Lila sobre sua futura fuga. E ainda por cima, para viver sob os cuidados de uma – até então – Destruidora de Nações.
Parece que somos exatamente iguais a ela. Incrível isso, não? Lá em Potédia, anos atrás – e coloca anos nisso – alguém sentiu esse mesmo vazio que existe dentro de nós em certa idade. Essa mesma vontade de jogar tudo pro alto e correr atrás daquilo que nos fascina, que nos extasia…
Acontece que não é fácil seguir os passos de uma guerreira que dorme no meio do mato, enfrenta gigantes e warlords todo santo dia.
Vejam, vocês enxergam alguma semelhança nisso? É todo o desenrolar das nossas vidas exibido em um simples seriado!
Como será que a mãe de Gabrielle se sentiu? Entrou em depressão? Chorou por dias? Lila foi aquele tipo de pessoa que disse: “Foi a escolha dela. Você precisa ser forte e encarar isso” ? Com certeza não foi tão simples assim.
Como uma mãe pode encarar isso assim, como se tudo estivesse normal?
Aquele filho que você sentiu crescer e te chutar por nove meses, que te fez engordar 20 quilos, que você colocou de castigo com o coração apertado de tanta tristeza, que fazia homenagens bregas e adoráveis na escola primária… Que você ama, que você cuida, que você protege… Que você não aguenta ver partir.
Eu pensei até meses atrás que o fator determinante de eu permanecer em casa, mesmo depois dos dezoito anos feitos, era o sofrimento da minha mãe com a minha partida.
Doce engano.
Fiquei até hoje porque não me imagino sem ela. Não estou pronta pra encarar aquele mundo de Zeus lá fora. Acho que não sobreviverei. E ao contrário do que eu pensava, quem iria sair correndo pedindo pra tudo voltar como era antes, seria eu.

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Alguns estão prontos e já com as malas arrumadas! Outros ainda não cortaram o cordão umbilical e nem pensam nessa possibilidade remota. 
O fato dela não gostar de Xena? Resolvi hoje no diálogo mais simples da minha vida.

“Porque você não gosta de Xena? Dá-me um motivo!” – eu sempre quis saber isso. Como alguém pode não gostar de algo se nem ao menos se deu ao trabalho de conhecer? É como dizer… “Não gosto de chocolate! Parece-me meio marrom demais…”
Enfim, ela respondeu:
“Eu não sei…”
“Pelos Deuses, como assim não sabe? É por causa do nome?” – ela disse que o nome era meio parecido com o órgão genital feminino em outra ocasião. – “Saiba que Xena se pronuncia ’Zina‘ em inglês. Foram os brasileiros que inventaram esse som de X.”
“Ah é? Agora sim! Já comecei a gostar dela…”

Estranho, não?
Mas me diz que mãe não é estranha?
Afinal, elas são todas iguais.
Iguais até demais!

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