Girl Power

4 - 5 minutes readUma garota poderosa da literatura britânica Puxem a gola, pescoços em risco!

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Por Alessandro Chmiel

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Obs.: pode conter spoilers da obra Drácula.

 

Queridos Xenites, feliz 2009! Apesar dos pesares, 2008 foi um ano maravilhoso pra Comunidade Xenite, em especial pela criação dessa maravilhosa revista. Parabenizo a todos que a constroem a cada mês e agradeço o espaço que tenho na seçãoGirl Power e a todos que a lêem, comentam, criticam, odeiam, enfim, obrigado!
Para variar um pouco, decidi começar o ano fugindo dos vídeo-games e viajando pela literatura. A obra em questão ainda permanece contemporânea, mesmo pertencendo ao século XIX. Escrito em 1897, Drácula (Dracula) foi a maior obra do escritor irlandês Bram Stoker (08/11/1847 – 20/04/1912). É no meio dessa trama de terror, perseguição e horripilantes personagens que trago a nossa heroína desse mês de janeiro: Mina Harker!
Também conhecida como Wilhelmina Murray, seu nome de solteiro, ela era a única mulher no grupo que buscava a destruição do temível Conde Drácula, arriscando não somente ter uma morte terrível como passar o resto da eternidade como uma serva do maior sanguessuga de todos os tempos.

Apesar do que falam da Editora Martin Claret, a edição de “Drácula” ficou bastante boa.

Você pode estar se perguntando: “o que esta mulherzinha faz na GP?”. Antes de ler o livro, eu mesmo jamais pensaria em Mina como uma lutadora ou coisa parecida, vendo-a como uma mera mocinha vitimada das garras e dentes de Drácula. Tudo bem, ela deve ser um zero à esquerda no quesito socos e chutes, mas suas armas são outras e, de muitas formas, bem mais poderosas. Sua inteligência e noção dos fatos traz ao grupo do bem uma grande vantagem sobre o vilão, contando também com forte senso de humanidade que Mina carrega consigo, sabendo que não será a única a ser destruída por Drácula se terminarem perdendo a batalha.
O bom de ler Drácula é sua forma incomum de contar a história. Através de diários, cartas, notícias, memorandos, lembretes, gravações, a história é contada de forma cronológica sob a perspectiva de quem está envolvido nela e através de suas próprias palavras, como Jonathan Harker, marido de Mina, e o famoso Van Helsing. Sem dúvida, é nas passagens de Mina que a visão não somente feminina, mas a de maior sensibilidade dentro da história, que o leitor sente a proximidade e afeição pelo drama vivido pela senhora Harker e seus amigos.
Fora da literatura, Mina Harker participou do filme A Liga Extraordinária (The Extraordinary League of Gentleman, 2003). O filme mistura outros personagens da literatura britânica, americana e francesa, como Dorian Gray, Allan Quatermain, Tom Sawyer e Capitão Nemo, sendo Mina a única personagem feminina. Baseado em uma obra dos quadrinhos, o filme traz Mina interpretada por Peta Wilson. Estejam avisados, porém, que o filme não passa de uma 

grande brincadeira com todos esses personagens. Mina aparece como uma jovem ruiva, já viúva, e com poderes vampirescos (como uma “garota só querendo diversão” – tá bem, péssimo trocadilho com Girls Just Wanna Have Fun de XENA -).
Outro filme bom de ser admirado é o realmente baseado na obra de Stoker. O filme de 1992 é 80% fiel no que diz respeito ao relato dos fatos, porém peca gravemente ao tratar nossa heroína. Mina é apresentada como a reencarnação do antigo amor do Conde Drácula (trama criada exclusivamente para o filme), que a quer de todas as maneiras como sua eterna companheira. Mina sai da imagem de garota inocente dos primeiros 20 minutos de filme e vira quase uma vag****** (imaginem a Xena de Between the Linesgritando o singelo palavrão ao assistir o filme) pouquíssimo apaixonada por Jonathan, que mais parece um paspalhão arriscando a vida pra salvar a “pobre” Mina. Mais um filme para ser visto com cautela, que tem um sabor a mais para quem teve a oportunidade (e paciência) de ler o livro antes (são mais de 430 páginas na edição da Martin Claret, mas vale a pena por não se tratar de uma leitura cansativa).

Talvez essa seja a primeira Girl Power que não se pareça muito com Xena, e sim com Gabrielle, e não há nada de mal nisso. As semelhanças não se restringem ao dom da escrita e da sensibilidade, mas na força com que ambas lidam com as situações, querendo o máximo de participação ativa nas aventuras que, no livro, envolvem Londres e a Transilvânia. Para uma mulher do século XIX, Mina Harker tem uma percepção de mundo extremamente avançada, não conformada em ser apenas uma dona de casa que cuida do marido, tendo habilidade em taquigrafia (incomum para mulheres da época) e ensinando etiqueta e decoro como profissão. Além do mais, Mina luta do modo que sabe, não tendo a força dos homens, mas certamente a grandeza de uma mulher.

 “(…) creio que o gosto da maçã do paraíso ainda permanece um pouco em nossas bocas”.
        Mina Harker em seu diário, ao falar da mulher. Página 227.

             Espero que todos tenham gostado desse mergulho na literatura e que sintam-se intrigados pela brilhante personagem e pela história do vampiro mais famoso do mundo. No mês seguinte, um presente para quem gosta de espiões e uma sugestão de seriado para as férias de verão. Com essa agente secreta, o mundo da espionagem jamais será o mesmo, podem apostar. Aproveitem as férias e experimentem alguns momentos de leitura com Drácula. Só protejam o pescoço, fechem as janelas e comam alho o dia todo. Conselho sempre é bom.
Até a próxima Girl Power, e não esqueçam de comentar!

One Comment

  • Mára

    Querido colunista embora eu morra de medo de vampiros tinha que ler isto!
    Discordo de ti quando referes sobre o filme de Copola, acho as imagens iniciais do filme com um Drácula humano se sentindo traído por aqueles que protegeu uma das coisas mais belas que ja vi nos últimos tempos. (recomendo Drácula 2000) com uma versão inusitada para o surgimento do mito e uma “filha do sangue dele” na tela. Acho a Mina de Liga Extraordinária uma grande “mulher” e o fato de sre cientista traz mais um fascínio, assim como seu relacionamento com o outro personagem fantástico durante e antes da aventura bem amarrado.
    A tua visão da Mina é linda e maravilhosa e ela como contraponto de sua amiga que foi pro lado negro da força, com grande dose de PODER & SEDUÇÃO é lindo. Parabéns pela escolha do tema e abordagem.

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