Crônicas

3 - 4 minutes readUm Ano Depois….

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Por Yannara Marques

        

Tarde ensolarada, 2008.
– Não. Não. Chato. Já vi. – Eu, passando os canais da televisão, quando de repente, ouço uma voz grossa durante uma abertura que, embora não soubesse, ainda ia ouvir muito.
– “Xena, a Princesa Guerreira”.
Juntando umas informações adicionais que eu tinha, o recém-assistido A Day in the Life, e uns primeiros episódios já baixados, um veredicto: achei uma nova série.
Apenas mais um seriado de ação, aventura, ficção para eu devorar os episódios, e distrair-me da vida tediosa aonde eu tinha ido parar.
Rever aquelas imagens de uma morena alta dando chutes e montando em seu cavalo dourado era o mesmo que arrancar lembranças do fundo da minha infância. E segui acompanhando a primeira temporada mesmo ouvindo comentários do tipo “é Trash” – algo que nunca levei a sério -. Meu interesse dependia um mínimo da qualidade de efeitos especiais.

“C’mon, dont leave meDont you leave meDont leave me….Dont leave meWake upWake upWake up …” Era agonizante ver aquilo sem poder dar um pulo na TV (ou PC) e dar uma sacudida e uns três tapas em Gabrielle, “ACORDA, MULHER!”. Não seria novidade vindo de alguém que se envolvia demais em tudo lia, via, ouvia, e facilmente imaginaria ao vivo e a cores ao lado de Xena tentando salvar sua (até então) amiga.
Qual seria a diferença dessa vez? Eu me via naquela cena, não como espectadora que via tudo por cima, ou figurante vendo tudo a distância, eu estava lá, sentindo o que a heroína passava, o que as pessoas ao redor dela exprimiam, de alguma fora eu era onisciente dos fatos não como se eu entrasse na história, mas como se essa tivesse entrado dentro de mim.
Loucura? Efeito de uso abusivo de café e noites mal dormidas, talvez. Mas de alguma forma eu percebia que não era só um novo seriado de TV que havia sido adicionado à minha vida.
As paisagens eram tão reais, quase tocáveis. Joxer, Gabrielle, Xena, Callisto, pareciam ter saído de algum louco sonho, e eu estava dormindo. Foram uns 5 meses assistindo religiosamente.
E quando acabou, era simplesmente impossível de acreditar, acabou…
A minha diversão que tinha se tornado paixão. Simplesmente acabou. Aquele meu refúgio secreto de um mundo de mudanças físicas, psicológicas, sentimentais, companhias, cobranças, concepções, tinha se perdido. E, como para muita gente, perdas não são facilmente toleráveis, passei a devorar tudo que pudesse, direta ou indiretamente, dentro desse Universo Expandido de XWP. Passava boa parte de meu tempo lembrando de algo que, teoricamente, acabou.

7 % da população americana acredita que Elvis não morreu. E por que haveriam de estar errados? Sua fama, música, estilo, atravessaram décadas, e mesmo gerações que não viveram na época conhecem ou admiram seus feitos.
Enquanto eu seguisse vivendo tudo que eu tinha aprendido naquela que não era mais somente uma série na minha vida, aquilo não acabou… e não acabará. Sou Xenite – faço questão de escrever com X maiúsculo -, palavra que há um ano nem estava no meu léxico.

Quando me sentei para escrever algo sobre meu primeiro ano como Xenite, pensei que sairia algo como os depoimentos de “How Xena Changed Our Lives”, mas esse feliz ano não passa de um primeiro capítulo de uma história “escrita” diariamente.
“Você gosta mesmo de Xena!?  Não vejo a lógica disso.”
Sempre perguntam isso com cara incrédula. Eu, com cara mais incrédula ainda (talvez um pouco sarcástica), respondo:
“Sinceramente… Não sei.”
Aos outros, raciocínio ou lógica; aos Xenites, a paixão.
E que venham os anos…

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