Girl Power

5 - 7 minutes readA mulher mais importante em toda a criação.

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Você acorda pela manhã, frustrado com mais um dia da sua rotina. Você vai para o seu emprego meia boca, e depois às compras e depois sai com seus amigos pra tomar uma cerveja. Você sente frio, calor, você corre na chuva para pegar o ônibus, e às vezes você senta e suspira cansado da sua vida medíocre, com a sensação de que você não está fazendo nenhuma diferença. Você não é um médico que salva vidas, um bombeiro que trabalha quando há um desastre ou um cientista que descobre coisas incríveis sobre a Terra. E às vezes você nem mesmo acredita que cada uma de suas ações únicas, contribuem para o girar dessa gigante força cósmica que é o universo.

O Girl Power desse mês vem falar de uma mulher assim. Uma trabalhadora temporária, com uma família esquisita e um temperamento difícil. Uma mulher que pensava não ser “nada em especial”, sempre gritando com todos porque era o único modo de se fazer ser ouvida. Um simples ser humano que acabou descobrindo ser a Mulher mais Importante em toda a criação: Donna Noble.

Donna Noble (Catherine Tate) é a companion na série Doctor Who. Se você não sabe do que se trata Doctor Who pare imediatamente tudo que estiver fazendo e vá assistir, porque apesar de DW ser uma série que ninguém leva muito a sério pela sinopse, assim como Xena, é o tipo de série que te prende e te cativa e faz você ficar fascinado com personagens apaixonantes (assim como Xena). Mas eu não vou falar do Doctor aqui, leia isso e sejam felizes. Voltemos ao nosso foco, afinal eu não re-assisti toda a quarta temporada e me desidratei em lágrimas à toa.

Donna é uma personagem apresentada a nós no episódio final da segunda temporada, Runaway Bride, e volta posteriormente como companion fixa durante a quarta temporada. Assim como todas as companheiras do Doctor, falar sobre Donna é um pouco complexo devido à tudo que envolve sua história, mas sobre ela podemos dizer que diferente de boa parte das demais companions, ela não ESCOLHEU embarcar na TARDIS. Ela foi abduzida. No dia do seu casamento. Usando um vestido de noiva. E mesmo ficando mais irritada que uma harpia de TPM, achado que o Doctor era um lunático (mas hey, quem estamos enganando…) e tendo voltado para o conforto e segurança de seu lar onde vivia com uma mãe super irritante e um avô obcecado por aliens, ela não resistiu, e um ano mais tarde  ela o reencontra e finalmente embarca na TARDIS por vontade própria, de mala, cuia, e MUITO mais bagagem.

Agora, quem havia assistido somente as três primeiras temporadas da série nova, podia pensar que Doctor Who se tratava de um senhor do tempo viajando com mocinhas jovens e atraentes, mas felizmente Donna vem pra provar o contrário. Na casa dos 40, ela não faz  o estilo “jovenzinha deslumbrada pelos encantos do alien boy“. Seu encantamento, é pela vida de aventuras e novidades que ele poderia lhe proporcionar, tão diferente da vida dela. E diferente de Rose e Martha nos seus primeiros momentos, Donna não o endeusa. Muito pelo contrário, ela grita com ele, lhe chama de louco e lhe dá até uns tapas quando necessário pra botá-lo no lugar. Tudo isso faz com que ela tenha uma relação muito parecida com a de uma irmã mais velha para o Doutor, embora ele seja mais de 860 anos mais velho que ela. 

Algo que todo whovian deve saber, é que o Doctor não deve viajar sozinho. Para um Senhor do Tempo de 900 e tantos anos, com os DOIS corações carregados de mágoa, ira, entre outras feridas emocionais, qualquer “gatilho” pode significar a destruição de um planeta. Ele PRECISA do elemento humano ao lado dele para controlar esse “lado negro” latente. E com Donna vemos ele exalar uma leveza diferente da que Rose ou Martha lhe proporcionavam. Ela não o coloca num pedestal o tempo todo, então ele não precisa ser perfeito o tempo todo.

Um vídeo que traduz muito bem em dois minutos a relação dos dois, é o vídeo abaixo. Podem assistir tranquilos, não tem nenhum spoiler significativo:

[youtube NFlsrZ9THu8]

Mas infelizmente – ou felizmente, para nós, que tivemos uma quarta temporada ÉPICA – nem só de leveza e humor a história de Donna Noble é circundada. O título desse Girl Power não é à toa.  Se existe algum herói humano em Doctor Who, muito provavelmente essa seria Donna Noble.

Atenção, a partir daqui tem:

É basicamente graças à Donna que o Doctor está vivo, e por consequência, os 7 bilhões de pessoas que habitam a terra e os outros quadrilhões que habitam o universo também estão vivos. É por ela, num dia comum ter tomado à decisão de VIRAR   À ESQUERDA e continuar na sua carreira medíocre de empregada temporária, que ela conheceu o Doctor e conseguiu salvá-lo, num momento onde sua ira de 900 anos o levaria à queda. É Donna quem fez as perguntas mais sem noção possíveis, que levaram o Doctor à conclusões brilhantes que salvaram a Terra. E sobretudo é Donna, com a intuição e instinto de sobrevivência humanos e uma pitada grande de perspicácia de Senhor do Tempo em sua mente, quem salvou o universo quando os Daleks haviam transformado a Terra e mais 26 planetas num sistema de engrenagem pra destruir toda a criação. E o mais triste de tudo: Ela jamais poderá se lembrar.

“Doctor: You’v saved my life in so  many ways”

Donna foi provavelmente a única humana em todo o Universo a saber como era ser um Senhor do Tempo, já que através de um processo de Meta Crise – sobre o qual não darei mais detalhes pra poupar de spoilers maiores- ela se transformou no “Doctor Donna”, fato que não apenas a transformou em alguém brilhante (talvez mais brilhante que o próprio Doctor), mas possibilitou que ela salvasse todo o Universo. O problema, contudo, é que humanos são frágeis demais para aguentar o fardo que é a mente de um Senhor do Tempo, e o fato que fez Donna finalmente perceber que ela era importante, e não apenas uma empregada temporária, também lhe condenaria à morte se não fosse revertido e toda a sua memória apagada, o que a condenou à voltar à uma vida terrena normal, sem memória alguma do Doctor e suas viagens.

Essa é a história de Donna Noble. A Mulher mais Importante da criação, aquela que salvou não apenas o universo, mas também o salvador do universo, aquela que com uma simples decisão de virar à esquerda, garantiu a segurança de um número inestimável de seres, e aquela que segundo seu avô “às vezes tem aquele olhar, como se ela estivesse tão triste, mas não conseguisse lembrar por que”.


 “Eu eu quero que você saiba, que há mundos lá fora, seguros lá no céu, por causa dela. Que há pessoas vivendo na luz e cantando canções sobre Donna Noble, há milhões de anos luz. Eles nunca a esquecerão, enquanto ela jamais lembrará. E por um momento, por um momento brilhante…ela foi a mulher mais importante de todo o universo”.

 

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2 Comments

  • ABarda

    Eu demorei a gostar da Donna, confesso, mas depois fui percebendo o tanto que ela era incrível. Além de frases hilárias e ótimos diálogos com o Doctor, ela também deu vários exemplos de como uma pessoa aparentemente comum pode ser fundamental para a existência do universo. É uma pena o destino que ela teve.
    BTW, eu também adoro o avô dela. Gramps Wilf é adorável!

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