Filmes

9 - 13 minutes readA sétima arte, colorida (7)

Reader Mode

Olá pessoal! Nesse mês de Novembro temos a Marina como convidada especial, e também responsável pela escolha de dois dos três filmes.

Espero que vocês gostem das escolhas, e já sabem! Caso os tenham visto, sintam-se à vontade para deixar seus próprios comentários ali embaixo!

Lembrando que assim como neste mês, aceitamos convidados na coluna para meses futuros. Para participar basta enviar um e-mail para [email protected] para se informar sobre disponibilidade e pegar a lista de filmes para o mês seguinte!

ATENÇÃO: As resenhas abaixo contém spoilers e assuntos/linguagem adequados a maiores de 16 anos. Leiam por sua conta e risco.

 

CIRCUMSTANCE

 

Titus

Eu achei que ia ser uma espécie de Os Sonhadores versão iraniana, ou seja, altas viagens sexuais entre Shireen, Atafeh, e o irmão de Atafeh, Mehran, mas eu me enganei. Desde o começo o filme me surpreendeu porque, na relação das jovens Atafeh e Shireen, eu podia jurar pelos rostos delas que a Shireen era a mais safadinha e a Atafeh a mais santa, mas é mais o contrário, mas isso não importa, só citei porque essa foi uma das primeiras coisas no filme que eu reparei. No começo do filme ainda, o irmão de Atie, Mehran, volta pra casa, depois de muito tempo, porque estava numa rehab devido às drogas e ele age normalmente, mas várias horas ele vai pro computador e fica lá, usando headphone, assistindo a imagens captadas por câmeras instaladas EM TODO O LUGAR na vida de sua família – essa parte, especificamente, é MUITO esquisita, já que em determinados momentos do filme, a história, que é normalmente exibida na visão do metanarrador fílmico, mudava sua visão para a de uma câmera de baixa qualidade, como se elas estivessem sendo filmadas, e essa é a mesma qualidade das câmeras instaladas por Mehran na casa dele. Até aí tudo bem, eu acho, porque câmeras são instaláveis numa casa, agora… COMO ELE INSTALOU CÂMERA NA RUA ANTES DA CHEGADA DELE? Não sei se foi erro técnico dos caras, mas foi muito assustador sabe, enfim -, muito bizarro, mas eu achei ele bonito, se é pra falar de algo bom.  Outro ponto que eu achei bem interessante no filme, que na verdade é a mensagem dele inteiro, é o lance do controle. Ele é mostrado de duas formas: na opressão que a polícia exerce sobre os rebeldes, de forma autoritária mesmo, suja, o que é muito ridículo em um governo, devia rolar uma revolução e acabar com toda essa palhaçada #revoltas; e a opressão que um casal lésbico sofre ao ter que lidar com as circunstâncias (daí o título do filme) de um casamento arranjado pela família (controle dentro de controle) e Shireen tendo que se adaptar à vida de casada, com um homem, e Atafeh tendo que conviver com o fato de que seu amor está nos braços de outro, e pior, seu irmão, Mehran. Ela não aceitou conviver com isso, na realidade. Enquanto a Shireen tomou uma atitude que ninguém esperava no final do filme, pois é, cagaram no final. Mas é irônico e triste ver que 3 pessoas, que deviam estar unidas sempre de um jeito, acabaram unidas, mas sob outras circunstâncias, infelizmente.

PS: Kudos pra música iraniana que me lembrou da música indiana e o povo dançando feliz do nada!

Nota: 3,5

 

Marina

Eu sempre me perguntei  como  pessoas de culturas não ocidentais e mais radicais que a nossa lidam com sua sexualidade. Bem, isso foi que despertou meu interesse por Circumstance. Independente do enredo em si, o mais interessante é ter a oportunidade de conhecer o comportamento dos jovens na cultura Iraniana (Mano, ter que lidar com os pais brasileiros é difícil, imagina os iranianos?).  Apesar de se passar no Irã o filme foi todo filmado no Líbano. E tiveram que mandar um falso script pra autoridades libanesas para poder filmar com liberdade. Depois que o filme foi lançado, Sarah Kazemy (Shireen) e a diretora Maryam Keshavars foram banidas no Irã.

A Maryam teve o cuidado de ser mais fiel possível a cultura iraniana ( Eu não sabia que eles falavam persa). O fotografia é açúcar pro olhos daquele jeito lindo de propaganda de dia dos namorados. Afinal é uma história de amor com direito a drama adolescente além daquelas partes dramáticas que fazem o estômago embrulhar de ansiedade.

Nota: 4,0

 

Mary

Entendo o mérito do filme por sua conotação política e até mesmo a sua qualidade como produção, contudo, pra mim ele passou uma sensação de algo faltando,  que falhou na transmissão da mensagem aos 45 do segundo tempo. Também achei as personagens sem sal, não são identificáveis, e pelo menos falando por mim, eu não me prendi a nenhuma delas.
Tratar da temática homossexual num país do oriente médio é um ato de ousadia, mas foi uma ousadia incompleta, que inevitavelmente serviu pra dizer: Se você é  uma mulher muçulmana, o patriarcalismo vai te ferrar e não há nada que mude isso, nem uma família liberal.

Nota: 3,0 

 

 Aryane

Influências culturais, étnicas, e muita covardia…  O filme é bem clichê. É realístico em certas partes e o fato de não ter um final feliz aflora a realidade, ainda mais dentro do contexto.  O filme consegue ser atual, cheio de questões políticas e as iranianas são bonitas. Porém, deixa a desejar.

Nota: 3,0

 

MÉDIA: 3,3

BREAKFAST WITH SCOT

  

Titus

Geeente, eu nunca vi uma criança tão gay, LOL. Sério mesmo, e, embora tenha sido super estereotipado, a personagem é super natural – pra falar a verdade, eu me identifiquei em partes, tipo, ele ter preferência por umas roupas / acessórios femininos tipo pluma, se maquiar enfim, e por ouvir do casal que ficou cuidando dele (um casal gay por sinal, logo logo comento mais sobre eles) toda a hora como ele devia ou não agir, tentando transformar ele num menino “normal”, ou seja, não afeminado, pra não sofrer o preconceito da sociedade etcetc – e é interessante ver a quebra de paradigmas de uma sociedade hetero, utilizando como lente os olhos de uma criança, inocente, que não consegue compreender porque um menino não pode gostar de rosa, afinal, é apenas mais uma cor. E de fato o casal gay que cuida de Scot concorda com a visão do garoto, afinal, sendo gays, é praticamente impossível ter preconceito. Mas a droga da sociedade os molda, molda a gente, de tal maneira, que acabamos por ter de nos submeter à posição de heteros, não dando pinta para não sofrer as consequências, enfim, e isso afeta Eric McNally (do casal) tanto, que ele foi deixando de viver os momentos de um casal mesmo, uma cena em particular denota bastante esse comportamento: Eric e seu parceiro, Sam, estavam saindo de um bar, e andando na noite fria, Sam quis botar seu braço em volta de Eric, coisa normal de namorado, e o Eric ao invés de curtir o momento romântico, desvencilhou-se do pseudo-abraço, porque afinal, alguém poderia ver né… Senti até uma raiva dele nessa hora, pela falta de coragem de mostrar seu amor pelo Sam. E o Scot, o Scot está acima dessa mentalidade. É um bom filme pra passar o tempo por ser tranquilo, e pra refletir sobre esses valores citados acima.

PS: Kudos por citarem o Brasil, de uma forma meio chata, mas mostraram pelo menos E pra atuação do NoahBernett (Scot): não sei se ele é gay naturalmente, mas se não for, ele atuou MUITO bem, e se for, é um mini gay bem legal.

Nota: 4,0

 

Marina

Com um T mesmo. Esse é pra descansar dos outros dois filmes tensos. Comédia que te faz pensar que “estar no armário” e “ser gay”é um conceito mais sutil do que se pensa. Tipo, é aquela mensagem de que você tem que se aceitar do jeito que é, ensinada pelo mais puro, que não faz a menor ideia do que é ser gay.
Eu gosto desses filmes independentes. Tem um visual e um humor diferentes. Acho que as pessoas ficam mais palpáveis também.

Nota: 4,5

 

Mary

O filme parece ser aquelas produções bobinhas que só querem explorar um pouco de humor, mas traz uma mensagem muito pertinente sobre família e preconceitos.Scot, é quase um Kurt Hummel criança, só que ainda mais afeminado. E a complexidade do filme já começa aí, já que o debate sobre as “causas” da homossexualidade persistem até hoje e os argumentos variam entre idéias behavioristas e genéticas. Como definir “o que fez” um garoto em tão tenra idade “virar gay”, né sociedade? A lente da inocência e da simplicidade que nos é proporcionada a partir do olhar ingênuo de Scot é um choque com a lente social que estamos acostumados. Rosa é só mais uma cor. Roupas são simples acessórios. Maquiagem é apenas um ornamento. Por que tudo isso precisa de rótulos “masculinos” ou “femininos”?

Outra questão pertinente é a do auto-preconceito, que fica muito claro a partir do personagem Eric. Infelizmente muita gente ainda tem o modo de pensar “tudo bem ser gay, apenas não se comporte como tal” e esse preconceito estava tão grudado em Eric que ele acabava se tornando escravo dele mesmo, já que boa parte das pessoas de quem ele tentava esconder sua sexualidade, já a conheciam. Ah, e claro, os desafio a assistir esse filme sem vomitar arco íris com e pelo Scot.

Nota: 4,0

 

 Aryane

Oh meu Deus, eu quero um Scot pra mim!
O personagem escancara ao mundo que ser gay não é uma decisão e sim algo genético, biológico: nasce com a gente. Gays são gays desde o momento em que a gravidez começa. Isso fica explícito e obviamente, é a magia do filme. Scot é cativante e ao mesmo tempo, chocante. E mais incrível ainda é a presença do preconceito entre os próprios gays: efeminados x machões.
Não é uma obra prima, mas é estonteante!

Nota: 3,5

 

MÉDIA: 4,0

XXY

 

Titus

Perturbador. Eu vi esse filme num dia que eu estava péssimo, tipo, cheio de ódio e tristeza e frustração e cansaço, e esse filme é tão tenso que me ajudou a liberar parte desses sentimentos ruins, quase como um desabafo. E nossa, a protagonista é uma menina de 15 anos, hermafrodita, mas que foi criada como menina até então, chega àquela fase de descobrimento sexual, e ela não sabe o que quer da vida, nem o que ela é. A cena de sexo, que começa normalmente, com beijos, e aí de repente a Alex (InésEfron) vira o Alvaro de bruço e começa a penetrar ele é perturbador por muitas coisas óbvias: ela, como mulher, desejou um homem, e vice-versa, então o esperado era que ele ficasse por cima, se é que me entendem; e como o Alvaro não fugiu enquanto ela começou a comer a traseira dele? Isso o torna gay, pelo menos bi, e até onde eu sei, ele se considera hetero; e o pior, O PAI DA ALEX VIU A CENA, e imagina pra uma adolescente o que é ser pega fazendo sexo pelo pai, ainda mais da maneira mais estranha possível. E mais: depois de serem pegos, Alvaro saiu correndo pra floresta pra terminar o serviço, ou seja, se masturbar, e chorando… Chorando por ter sentido prazer como gay? Chorando por ter deixado uma hermafrodita tocar ele dessa maneira? Chorando de vergonha, com certeza, do pai de Alex, de si mesmo, dó dela, o prazer é simplesmente necessário naquele momento, e a mais profunda tristeza o consome – eu acho essas cenas, embora horríveis, muito belas, até porque um dia já pensei numa semelhante para um filme, mas enfim, acho extremamente humanas – acho que é a cena mais forte do filme, seguida pela cena do quase estupro da Alex pelos colegas de escola, credo, essas crianças… Enfim, é um filme tenso, não veria de novo, só recomendo se você estiver num dia muito ruim, mas não vou negar a grande qualidade do filme, afinal seu objetivo era chocar, perturbar etc, e ele conseguiu, ainda mais com a ÓTIMA atuação da Inés Efron.

Nota: 5,0

 

Marina

Acho que o ritmo que é usado pra se contar uma história é a chave pra prender o espectador. No caso de XXY, a coisa acontece de um jeito bem lento. Apesar do tema ser muito interessante, o filme é entediante, tenso, vago e azulado (vago de um jeito que mal tem diálogos e você tem que ir subtendendo e completando um monte de coisa. Só que as coisas não acontecem nunca). Eles usam aquele filtro comum em filmes independentes que ajuda a aumentar a dramaticidade da coisa. Funciona. Quer dizer… menos em Twillight. Enfim, lá pelo meio da história as coisas realmente começam a acontecer e você descobre realmente qual é a da menina/o. Mesmo assim, acho que faltou compaixão da minha parte. Não consegui simpatizar com a Alex. Ela é um pé no saco. Sejamos francos.

Nota: 2,0

 

Mary

Achei esse filme argentino por acaso há alguns meses e seu tom alternativo me chamou a atenção. O tema é difícil e complexo, e foi tratado com muita sutileza, tanto a ponto de algumas pessoas acharem o filme lento demais. O passo da narrativa não me desagradou, afinal não era a proposta mostrar ação externa, mas sim a ação de um círculo de pessoas e como elas lidam com a questão do hermafroditismo. No momento em que o roteiro não deixa escancarado o sexo dominante no personagem, e levanta sua escolha de não se submeter à cirurgia, traz a tona com muita força toda essa questão super complexa da identidade de gênero, afinal, recentemente muito se tem debatido sobre a identidade não se limitar a homem X mulher. E claro, vale dizer que Inês Éfron é uma ótima atriz!

Nota: 4,0

 

Aryane

XXY é aquele tipo de filme que não temos vontade de assistir pela segunda vez. O roteiro é completamente diferente de todos os filmes que já vi. Temos a aparência física x a sexualidade mental… Complicadíssimo! E uma adolescente machucada, super agressiva, devido aos rumos que sua vida tomou. Sinceramente, eu me assustei com o filme. Não imaginava que uma situação como essa pudesse acontecer… E pode, porque não? Há tanta inconscistência educacional no mundo, que desenvolve preconceitos e soluções dúbias, doentis… Louco. Esse filme é louco!

Nota: 3,0

 

MÉDIA: 3,5

 

6 Comments

  • ABarda

    Nunca tinha ouvido falar desses filmes até hoje. Por coincidência, hoje cedo eu estava procurando uns filmes com temática gay, e Circumstance foi um dos nomes que apareceram pra mim, mas nem cheguei a ver nada…
    Não acho que eu teria vontade de ver um filme como XXY. Pelo menos, pelos comentários aqui, o filme parece super tenso, e eu estou fugindo disso por enquanto…
    E Breakfast with Scot parece ser fofo. Talvez eu procure pra ver depois.

  • Mára

    Bom, o Irã é onde era a Persia então eles falam persa né… eu não acho nossa sociedade ocidental tão não reprimida assim e talvez este seja um outro modo de repressão: o “obrigar” via mídia a ter um comportamento xyz de alta exposição e talz. Gostei dos filmes e pensei em ver com calma. Houve uma novela no Brasil em que um menino foi criado como menina (chocolate eu acho) e Grande sertões veredas traz Diadorim ou a Luzia Homem… mas é diferente por que hermafroditismo traz jundo com o comportamento ou questão hormonal uma questão anatomica. Pelos comentários vale a pena conferir cada um deles dependendo do nosso estado de espírito. Obrigada pelas dicas.

  • Ana Maria

    Hey, Gactos! Vi por acaso no face uma foto do Titus com um meio resumo de um filme e tinha a ver com a RX. Como não entro aqui há milhares de anos (é, é uma vergonha =[) resolvi entrar pra saber mais do que se tratava. Gostei bastante da coluna. Eu adoro ler críticas sobre filmes, caçar alguns pra ver e tudo mais. Na minha opinião, acho que não só deveriam colocar filmes que “tenham algo explicitamente ou subtextualmente gay em seu enredo”, como dito na primeira coluna, mas também filmes que necessariamente não tenham. Cinema é um tema tão fantástico e abrangente que acho que seria legal saber de outros tipos de filmes também. EU SEI que não é o propósito da coluna e tudo mais, mas é só uma sugestão do que eu também me interessaria em ver. Belo trabalho que vocês estão fazendo. Um beijo e um queijo ;*

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *