The intoxicating dark side
Por Yannara Marques
“ – Evil, the dark side. Intoxicating, isn’t it?
– Oh, yeah…It’s intoxicating.”
Xena e Gabrielle em Heart of Darkness
A discussão sobre a maldade. Suas origens, conceitos e implicações são bem anteriores aos Deuses Olímpicos. Assunto não só instigante como presente em nosso cotidiano… e em XWP.
Esperança, César, Alti, Najara, Callisto, Lúcifer, Ares… De que um vilão é feito?
Melhor seria perguntar: de que um ser humano é feito?
Por mais demoníacos, divinos ou espirituais que os personagens possam parecer, a série tem essa característica de fugir dos maniqueísmos típicos onde se tem uma linha exata separando os mocinhos dos bandidos. Algumas outras séries pecam nesse aspecto e criam um ideal de heroísmo quando poderiam ser bem melhor desenvolvidas se não ignorassem um lado humano tão necessário quanto a luz: as trevas.
Segundo estudiosos, a origem da Maldade:
O filósofo grego Xenófanes de Cólofon (560-478 a.C.) foi o primeiro a propor que o mal perpassa todo o universo e da sua força nem os deuses escapam.
Charles Darwin, pai da teoria da evolução, pôs em xeque a idéia de uma natureza projetada por um Deus bondoso. Ele lembrava o exemplo de uma vespa que paralisa outros insetos para que sejam comidos vivos por suas larvas. E conclui que um “Deus onipotente e benéfico” não teria criado um ser assim.
O “maquiavélico” pensador renascentista italiano Nicolau Maquiavel admite, em seu clássico O Príncipe, que o governante deve, em certas ocasiões, ignorar os preceitos morais e até praticar o mal para se manter no poder.
Hanna Arendt. Filósofa judia, pondera que o mal pode tornar-se banal e espalhar-se pelo mundo dos homens como um fungo, porém apenas em sua superfície: “As raízes do mal não estão definitivamente instaladas no coração do homem e por não conseguirem penetrá-lo profundamente a ponto de fazer nele morada, podem ser arrancadas”.
O pisicologo Hume chegou a dizer: “Se todas as criaturas vivas fossem incapazes ou se o mundo fosse administrado por volições particulares, o mal nunca teria acesso ao universo”.
Grande filósofo do cristianismo, Santo Agostinho admite que coisas ruins acontecem igualmente a pessoas boas e más, mas diz que é a atitude piedosa diante do infortúnio que faz a diferença.
Como veem, mesmo filósofos e cientistas divergem quanto ao assunto.
“Sabe o que eu acho? Você queria que eles morressem, assim teria um motivo para ser uma vadia”.
É assim que Gabrielle na sua versão mais, digamos, “capetosa”, acusa Callisto. Um dos momentos mais intigantes da série – diga-se de passagem um dos meus favoritos.
Numa reportagem da Revista Veja (Ed. 2092 Dezembro de 2008), me apresentada pela Xenite Aninha, sobre Serial Killers,explica da diferença entre um ato maligno e caso de psicopatia.
“O psicopata entende intelectualmente a diferença entre o bem e o mal, mas é desprovido de piedade, empatia, remorso”.
Se o mal já estava presente dentro de nossa psicótica vilã apenas esperando ser despertado, levando esse debate para um plano bem mais prático, o que fazer?
Se a crueldade, violência, ambição, são instintivas a pobres mortais, o correto é perdoá-los toda vez que obedecem sua própria natureza ou não.
Saído agora de uma discussão do filme Dogville e voltando para XWP, Xena perdoou Callisto e trocou sua alma pela dela emFallen Angel apesar de todo o sofrimento que mutuamente causaram.
A própria Xena se arrependeu de seus atos malignos. Nas palavras de Quentin Tarantino:
“[…] Ela é atormentada por seus atos cruéis. Quer dizer, eles são cruéis, são verdadeiramente cruéis. Ela não era, como, aquele tipo má. Ela era um mal, uma pessoa homicida. Incontáveis números de mortos durante seu reinado, torturas, raças e tribos inteiras não existem mais por causa de Xena. Agora ela luta por redenção, mas ela sabe que não merece redenção e ela nunca terá redenção. A única coisa que ela pode fazer é só fazer o bem agora, no fundamento do dia a dia. Mas ela não merece piedade. Ela está pagando um débito que ela nunca poderá pagar e ela sempre pagará 10% no dólar”.
Xena pode mudar; Livia por uma intervenção divina voltou-se para caminho do amor; alguns fãs alegam que a mesma oportunidade não foi dada a Esperança e que mesmo sendo um recipiente para a mais pura maldade ela poderia ter um lado bondoso não descoberto. Pois mesmo O Destruidor, o próprio mal encarnado, não pode conter o grito de dor ao ver sua queridinha mãe morrer.
Será realmente que César e Alti – sendo humanos – nunca amaram alguém ou alguma coisa além do poder? Ou amor por uma causa se tornou uma obsessão como no caso de Najara?
Ares que, às vezes, tendo se aliado a Xena, não pôde fugir de seu destino de Deus da Guerra, nas palavras do mesmo: “É isso que eu faço”.
Enquanto toda essa polêmica culmina, seguimos amando odiar os vilões (vilões?) do intoxicantelado sombrio de XWP.