Girl Power

8 - 11 minutes readComande-me, minha Girl Power! Seja confessado pela Madre da verdade – sirva à alma do amor.

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Por Alessandro Chmiel

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GIRL POWER – n. 22

0000000Dedicado às Girl Powers do mundo real, pelo Dia Internacional da Mulher. Que Xena e Gabrielle, e também Lao Ma, Ephiny, Afrodite, Eva, Cyrene, Mynia, Meg, Lilá, toda essa massa de seres incríveis a quem chamamos de MULHERES, poderosas em cada jeito de ser, estejam sempre com vocês, inspirando a todos.                                            Obs.: Sem spoilers que estraguem seu prazer de ler a saga Sword of Truth e assistir a série Legend of the Seeker. Boa GP pra você!                                                   

Em parceria com nossa ídola Mary Anne no comando da Bitch Powerdeste mês, a Girl Power traz outra personagem da vastidão de Midlands (onde? Calma.). E não é uma personagem qualquer: seu criador afirmou certa vez que a história toda foi criada a partir da ideia desta personagem.

Vamos dar nome aos fulanos: a GP apresenta a vocês Kahlan Amnell, a Mother Confessor (conhecida pela tradução da Aulyde Soares Rodrigues, tradutora de A Primeira Regra do Mago, por “Madre Confessora”) dos livros de Terry Goodkind. Goodkind é autor da saga Sword of Truth (“Espada da Verdade”), escrita em doze volumes gigantescos – começando pelo A Primeira… – e cheios de narrativa brilhante, dramas interdimensionais, amores infinitos, ódios eternos, e o que quase todo mundo gosta: magia. Os (ór)fãs de Harry Potter vão encontrar um novo mundo a acolher, podem apostar. Baseada na saga literária, a série Legend of the Seeker (ainda sem título definido no Brasil) está na sua segunda temporada, e claro, não podia deixar de trazer à vida uma das mais incríveis GP’s que já vi.

0000000            Um pouco da história, para quem ainda não conhece: o herói central é Richard Cypher, um simples guia florestal que vive em Hartland, na área oeste do mundo criado por Goodkind. Acostumado com uma vida pacata e pequenos perigos que alguém pode se deparar com uma vivência mais rural, sua história muda por completo quando Kahlan Amnell surge direto de Aydindril em seu caminho. Em fuga, Kahlan mal explica sua situação quando ambos são atacados por quatro homens fortemente armados com músculos e espadas (D’Harans), querendo a cabeça da jovem “indefesa”. E isso é apenas o começo de todos os problemas dos dois. Richard se vê de face para o maior perigo do mundo de Midlands: Darken Rahl, um tirano que mexe com magia do submundo disposto a conquistar o poder sobre todos. Profecias antigas dizem que o Seeker – um guerreiro que busca pela verdade e age com sabedoria – derrotará o temível Rahl. O que Richard não sabia é que um velho amigo, o qual acabou de revelar sua identidade como Mago da Primeira Ordem, lhe nomearia como o Seeker da Verdade.
Mas e qual a função da tal Kahlan nessa história? Trazer problema para o coitado do Richard? Pode ser que sim, mas ao longo da leitura (focando, por enquanto, o livro) percebe-se que o Destino sempre contou com Richard empunhando a Espada da Verdade pela salvação do mundo. No que se restringe a Kahlan, o título que ela carrega nos ombros é um fardo tão ou mais pesado do que o de Richard.

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            As mulheres Confessoras foram criadas há muitos anos pelos antigos magos, de modo a equilibrar a justiça no mundo. A linhagem delas é sempre carregada do poder confessor. Para começar, ninguém mente para uma Confessora. O que torna Kahlan tão temida é a utilização do poder como ultimato para se descobrir a verdade de alguém – um criminoso, alguém prestes a ser julgado, um condenado à morte. Com apenas um toque, Kahlan corrompe a existência da pessoa tocada pelo poder confessor, tornando-a serva leal de Kahlan para o resto de sua vida, ou enquanto Kahlan viver. A explicação para o poder se define por um amor incondicional da vítima sobre Kahlan, que se torna sua Senhora: nada mais importa, a não ser fazer a Senhora feliz realizando o que quer que ela deseje. Apesar de grandioso, o poder confessor traz uma culpa irreversível ao bom coração dessa Girl Power, pois nascer com o poder demanda a responsabilidade de atuar para o bem do mundo sem objeções. Sendo a Madre Confessora, a mais importante entre todas as outras, sua posição a eleva a um cargo maior do que até mesmo o de uma rainha, e ai do reino que não obedecer a palavra dela.
Um adendo especial em parceria com a Bitch Power deste mês: quando uma Confessora confessa uma Mord Sith (explicações na BP, corre pra ler!), não há julgamento: é morte certa, de dor incomparável. O próprio mago Zedd afirma ter sido uma das coisas mais horríveis que já presenciou, assistir à morte de uma Mord Sith por uma confissão. “O fenômeno se fundamenta no encontro de dois poderes opostos, sendo o poder de uma Confessora advindo do amor, e o da Mord Sith advindo da raiva que é implantada em seu coração desde criança”, complementa a Mary Anne.

Mary Anne, que já avançou consideravelmente na leitura da saga (e sempre muito bem informada que só ela), fala um pouco a respeito das outras facetas da Madre Confessora: “Kahlan Amnell é o tipo de personagem que faz a gente se apaixonar por ela logo de início – talvez isso explique muitas meninas enlouquecendo por nossa Confessora e ostentando avatares de ‘Gay For Kahlan’ no fandom internacional. Eu, como a maioria dos fãs ‘confessados’ por Kahlan, tive acesso à personagem primeiramente através de Legend of the Seeker, e como Xenite que sou, me encantei por aquela mulher cheia de Girl Power, fugindo dos soldados em cima de um cavalo, desviando de flechas e atirando facas – e pelos deuses, ela lutava com um estilo parecido com o de Gabrielle e seus sais. Era demais pro meu coração. Mas assim que embarquei no universo dos livros Sword of Truth, percebi que AQUELA Kahlan da série tinha muito da mão de Robert Tapert, já que ela era muito mais temida, decidida, e até mesmo ‘dura’ do que a Kahlan dos primeiros capítulos de A Primeira Regra do Mago. Avançando na leitura, percebi que tudo se tratava de uma personagem que tem a mágica como essência, se sentindo um pouco deslocada no território de Westland (a terra de Richard), uma terra sem mágica. Quando a Madre Confessora deixou a sua máscara de insegurança cair, ela faz cair junto o queixo do leitor, e o responsável em grande parte por isso é o chamado ‘Con Dar’ ou ‘Blood Rage’, a Raiva do Sangue.
“Esse grande poder hoje conhecido como TPM, que tem elementos de mágica subtrativa, aquela do Submundo, tem o diferencial de vir do ódio e do desejo de vingança, enquanto o poder usual de uma Confessora vem do amor. Somente as Confessoras mais poderosas podem atingir o Con Dar, e o mesmo só pode ser ensinado à Confessora por sua mãe, na idade certa. Não foi bem o que ocorreu com Kahlan. As suas origens mágicas proíbem o poder de ser usado para ganho pessoal da Confessora, sendo o Con Dar invocado somente para a defesa ou vingança de alguém amado por ela. Devido a ser um poder proveniente da raiva, a Confessora que o invoca, na maioria das vezes, acaba morrendo após usá-lo. Mas antes disso, ela pode usar seus poderes sem tocar uma pessoa, não precisando nem mesmo se recuperar entre uma vítima e outra.
“Uma vez o escritor William Congreve disse que ‘O Inferno não tem tanta fúria quanto uma mulher rejeitada’, eu peço licença aqui pra adaptar essa citação dizendo que o inferno não tem nem metade da fúria de uma Confessora com sede de vingança. Não quero soltar aqui spoilers sobre as obras de Terry Goodkind, então não farei maiores menções diretas a fatos ocorridos nos demais livros sucessores de A Primeira Regra do Mago, mas se vocês acham que Kahlan esbanja Girl Power na série, não deixem de conferi-la no segundo volume da obra de Goodkind, Stone of Tears, onde nossa delicada Madre Confessora tem cenas liderando um exército, dignas de uma Princesa Guerreira com seu modo ‘Kill them All’ ativado. E olha que ela nem no Con Dar estava”.

De certo modo, enxergo Kahlan em um plano de maior semelhança com Gabrielle (apenas um plano maior que o de Xena, veja a seguir). Possivelmente Gabrielle teria se tornado parecida com Kahlan após todo o tempo que compartilhou com Xena: austera, sábia, ponderante, uma mulher que carrega responsabilidades acima de si mesma e sabe se defender sozinha. Alguém que Gabrielle poderia gostar de ser um dia.
O romance que surge entre a Madre Confessora e o Seeker da Verdade é proibido, mas consideravelmente longe dos amores mexicanos: se Kahlan algum dia expressar seu amor por Richard, o Seeker será confessado e estará perdido para sempre. Como dialogar entre o amor de duas pessoas e o destino do mundo todo? Entende-se, assim, que a relação de Kahlan e Richard é de um amor tão devastador quanto o das nossas amadas guerreiras; não é para menos que sua história foi trazida às telas da TV pelas mãos de Robert Tapert e Sam Raimi – tudo gravado na Nova Zelândia, com a música nas mãos do abençoado Lo Duca! Grosso modo, Richard seria uma espécie de “Gabrielle forçada”, uma pessoa obrigada a trilhar um caminho que o Destino ordenou, o caminho do guerreiro; em contrapartida, Kahlan seria uma espécie de “Xena em Gabrielle”, ou seja: o caminho do guerreiro flameja dentro dela, mas sua posição de Confessora (desse modo, social e política) exige uma postura que nem sempre exige empunhar uma espada. No caso de Kahlan em LOTS, a personagem carrega duas adagas (um pouco diferente de Gabrielle, que porta sais), e não hesita em matar quando preciso. Essa apimentada dos produtores de LOTS em cima de sua personagem só serve para encantar ainda mais quem assiste. Não bastasse a ação, a atriz Bridget Catherine Regan (28) incorpora Kahlan com excelência. Sua fúria em combate, sua voz delicada e sua face de Madre Confessora são inigualáveis.
A atriz norte-americana adora seu trabalho, e é fã de carteirinha dos livros. Ao ser perguntada sobre os efeitos de Kahlan em sua vida e de que modo a Confessora, que passa por tantos percalços, a inspira para novos desafios, Bridget Regan solta o verbo: “Nunca pensei sobre isso! Acho que talvez sim. Hoje mesmo estava gravando uma cena onde Kahlan batia na porta da morte. Me faz pensar sobre o que realmente importa. Acho que eu digo ‘eu te amo’ para as pessoas muito mais do que costumava dizer. Mais do que me inspirar a novos desafios, interpretar Kahlan me tornou mais forte. Mantenho-me firme com maior facilidade do que antes dela estar todos os dias na minha vida” (<http://news.popstar.com/Article/1628>).

Uma das maiores lições que Kahlan nos passa é o amor incondicional que ela leva dentro do peito. Amor pela vida e amor pela verdade. Quantas vezes não subjugamos o valor da palavra sincera, a grandeza de uma atitude realizada apenas pelo bem do próximo? Talvez não estejamos sendo falsos com os outros o tanto quanto somos com nosso coração. Reconhecer o que sentimos, enaltecer nossas qualidades e criar um mundo de alegria não é apenas missão para quem é Confessora, é dever de cada um de nós, Xenites ou não. Já aprendemos com XWP, e tenho certeza que inovaremos nossas lições e absorveremos ainda mais sabedoria com a caminhada de Kahlan, sempre em busca da verdade.

Em abril, a Girl Power espera por vocês – em Silent Hill! Já ouviu falar? Ainda não??! Pegue sua passagem de ida por aqui – e retorne se conseguir. E não esqueça dos comentários! O esquema mudou, mas está bem mais fácil, não? Ah, está sim, confessa.Confessar?! É apenas um fato: enquanto formos seguidores da verdade, seremos todos filhos de Kahlan. Um obrigado à Mary Anne e um abração pros Xenites.