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6 - 8 minutes readReportagem: o Exercício da Revisão e Tradução em Trabalhos Voluntários On-line­

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por Alessandro Chmiel
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Nota: Esta reportagem foi escrita para a cadeira de Produção Textual I do curso de Letras/Bacharelado da UFRGS e lida para a os colegas de sala. O objetivo foi realizarmos uma pesquisa e entrevistas para construir uma reportagem com caráter jornalístico – mesmo não cursando Jornalismo. A Revista Xenite entra em foco, e trago para vocês o resultado dessa experiência. Boa leitura, comentários são muito bem-vindos!

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            O Exercício da Revisão e Tradução em Trabalhos Voluntários On-line­

            Um dos caminhos mais fáceis para a comunicação na atualidade é através da internet. Milhões de pessoas têm acesso a um número ilimitado de informações a cada segundo, trazendo agilidade nas notícias ao redor do mundo e uma aproximação de internautas por todo o globo. É bastante comum grupos de diferentes gêneros e gostos utilizarem a internet como meio de intercâmbio, trocando experiências e informações a serviço de si próprios e terceiros. Como de praxe, a comunicação textual é bastante forte, nem sempre contando com uma boa qualidade discursiva no decorrer da leitura. Nessa hora, o trabalho de um bom revisor pode fazer toda a diferença. A má notícia, porém, é que nem todo mundo se dá conta da função da revisão e muito menos de que existem pessoas qualificadas especialmente para essa função.

            A revisão posta em prática

            Como exemplo, exponho aqui o trabalho realizado voluntariamente por mim em uma publicação exclusivamente on-linena Revista Xenite (< www.revistaxenite.com >). A Revista, criada em junho de 2008 por Maryana Raposo, de São Luís – MA, é feita por fãs e para fãs do extinto seriado Xena, a Princesa Guerreira, no ar de 1995 até 2001 nos Estados Unidos. Com a neozelandesa Lucy Lawless na pele da protagonista e Renee O’Connor encarnando a barda guerreira Gabrielle, reunindo seis temporadas e 135 episódios, a série conta a história de uma heroína dos tempos antigos em busca de redenção pelo seu passado obscuro, e suas batalhas e dramas ao lado de sua fiel parceira e amiga. Mantendo fãs até hoje mundo afora, os brasileiros “xenites” (apelido aos fãs do seriado) trabalham por livre e espontânea vontade todo mês em cima de novos materiais relacionados com Xena, dentro ou fora do âmbito televisivo, através de crônicas, artigos, pesquisas e críticas literárias. Atualmente nas mãos da paranaense Mary Anne de Mattos , de Prudentópolis, o site recebe um número ascendente de visitantes, inclusive do exterior. Com um grande fluxo textual, a necessidade de um revisor apareceu quando a qualidade dos referentes artigos estavam pecando em ausência de estrutura e formalidade nos textos, geralmente tornando a leitura um exercício enfadonho e prejudicando tanto o leitor quanto quem escreve.
Estudante de Letras/Inglês da Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO-PR), a diretora e editora-chefa da RX Mary Anne explica um pouco sobre esse trabalho. “Sobre a revisão, é estipulada uma data limite para que os colunistas entreguem seus artigos. Após recebê-los, os envio para o revisor que, através da ferramenta de revisão do Word, faz as marcações sobre correções necessárias que se aplicam à gramática, ortografia, coesão e coerência. O revisor pode eventualmente entrar em contato com determinado colunista para fazer críticas construtivas, sugerir mudanças em algum aspecto do artigo em questão ou até tirar dúvidas sobre algum detalhe do artigo”, declara. O processo pode levar de três dias a uma semana, dependendo do tempo livre do revisor e da quantidade de material a ser revisado.
Um outro caso é o da estudante também de Letras/Inglês da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS-RS) de Porto Alegre, Grazielle Ruzzante Giangiulio, que trabalha em um blog como colunista musical de eventos animes – ou animês –, os famosos desenhos animados da cultura japonesa. Grazielle começou há pouco tempo a atuar no blog, mas já vivencia algumas complicações nessa parte revisora. “(…) o blog já existe faz tempo e só de uns meses pra cá que perceberam como é importante estabelecer um padrão e revisar o que cada um escreve”, relata. “Meu trabalho nunca é revisado quanto ao conteúdo. O que eu já vi acontecer é, às vezes, mudarem a formatação da matéria: título centralizado ou não, fonte etc. (…) o que mais eles fazem é mudar as fotos que eu selecionei pra ilustrar minha matéria”. Em contraponto, Grazielle destaca um fator importante no exercício da revisão: “O meu conteúdo e o meu estilo está sempre nas matérias”, diz ela, retificando seu ponto de vista também como locutora que defende seu estilo de texto. Baseando-se nos depoimentos dela, é possível perceber tanto a ingenuidade frente ao trabalho do revisor quanto a relutância em admitir um texto de própria autoria como sujeito a alterações por possíveis erros.
A questão dessa desconsiderada importância e a relutante posição de alguns colunistas da Revista Xenite foi discutida com o estudante de Direito da Universidade Católica de Brasília (UCB-DF), Pedro Henrique de Abreu Ferreira, leitor frequente da revista. Para ele, o trabalho do revisor é fundamental na construção de textos fáceis e agradáveis de serem lidos. “É muito interessante até para formar a opinião e o entendimento sobre o texto que se está lendo”, diz ele. Ao ser questionado sobre as implicações negativas dessa função, Pedro Henrique salienta o padrão que a revista deve conter. “Não acho que atrapalhe de forma alguma, ao contrário, é benéfico e faz com que eles (os colunistas) tenham uma espécie de objetivo, um padrão (…) para que não percam as ideias e nem saiam dos assuntos propostos”. E acrescenta: “Possibilita um texto rápido, fácil e coeso e se torna interessante para quem o está lendo”.

            Revisor X Colunistas

            Um dos mais importantes fatores que englobam o trabalho do revisor é a capacidade de argumentar com quem escreve, através de e-mails e programas de comunicação rápida, como o MSN ou Orkut. A blogueira Grazielle enfatiza o diálogo, previamente abordado por Mary Anne, entre o revisor e os escritores dando um exemplo seu. “(…) às vezes sinto que tenho que guardar certas críticas. Os donos da revista não percebem tanto quanto eu o quanto a linguagem usada na revista pode ser decisiva pra alcançar o público-alvo e, consequentemente, vender. Eles cuidam mais da parte de anunciantes, não entendem tanto assim disso. Daí acho que, às vezes, pode soar arrogante da minha parte ficar apontando a toda hora coisas que eles têm que definir, senão não consigo fazer meu trabalho direito”, confessa Grazielle. “O que eu queria é que essa formação (em Letras) também influenciasse mais ainda a visão que as pessoas têm sobre meu trabalho, de ver que eu tenho conhecimento o bastante pra criticar e saber o que pode dar mais certo”.
Além da revisão textual, a Revista Xenite conta com eventuais traduções de artigos e entrevistas com personalidades do seriado, como atores e produtores. Mary Anne também participa desse processo, que exige mais tempo e atenção de quem traduz e revisa. “Assim que tenho a entrevista toda montada, mando para o tradutor que a passa para o português, fazendo em seguida uma revisão para não deixar passarem pequenos erros de tradução, gramaticais, ortográficos ou de coesão e coerência”, relata ela. Analisando as entrevistas, pode-se perceber a participação significativa de quem trabalha com o texto alheio, seja revisando em busca da melhoria qualitativa do que está escrito, seja traduzindo com a maior clareza e credibilidade possíveis com a versão no inglês e no português.

            Metas

            O objetivo daqui para frente é tornar os diálogos cada vez mais frequentes dentro da Revista Xenite, conscientizando os próprios colunistas a revisarem seus textos antes de mandarem para a publicação. A revisão acaba auxiliando o escritor a criar textos melhores a cada mês e o leitor a permanecer assíduo à revista. “Com a recente reforma ortográfica, a revisão se tornou imprescindível porque muitas pessoas ainda estão confusas sobre o uso das novas regras”, ressalta Mary Anne sobre mais um aspecto positivo da revisão. Como tudo na vida, o bom diálogo é imprescindível para o melhor funcionamento do sistema comunicativo e produtivo da revista. Grazielle pondera ainda sobre a postura do revisor nesse embate com os autores. “Claro que isso também exige humildade do revisor, de ter o jeitinho e a sutileza de apontar os erros de quem escreveu”.
A oportunidade de trabalhar voluntariamente em instituições on-line pode ser uma boa sugestão para quem segue na área de Letras e pretende seguir trabalhando profissionalmente com revisão e/ou tradução, uma vez que se põe em prática o que se aprende dentro da universidade. Muitas vezes são trabalhos de tal categoria que podem fazer a diferença no currículo de quem nunca teve um emprego formal.

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Sinceros agradecimentos a Mary Anne, Pedro Henrique e Grazielle Ruzzante.
Sempre ótimo contar com quem a gente gosta!

One Comment

  • Mára

    Que linda exposição. Sobre o ato de ter revisado o que se escreveu, acredito que há muito desconhecimento da técnica envolvida e ainda persiste muito a idéia de supervisão ou censura. Lamento não termos no momento revisores e seria uma honra ver os textos revisados por outro, pois outro olhar , ainda mais com o conhecimento técnico somente faria crescer a qualidade do que se faz. Parabéns

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