A SOLSTICE CAROL – Mudança de Vida
Robson Cardoso dos Santos
Chega essa época do ano, finzinho de novembro, o sininho de dezembro já se fazendo ouvir, e, sei lá, fico meio bobo com toda essa aura natalina!! Tudo parece mais quente, colorido, vivo! Sou muito família e amigos, e nunca deixo um ano terminar sem puxar todo mundo de quem gosto para interagirem uns com os outros, celebrarem e prepararem juntos o pé para pisar o primeiro passo dentro do ano novo que se inicia! Amigo-secreto, troca de presentes, Eleição do Mala do Ano, ceia, fogos de artifício, algumas das tradições que pago para manter na minha família!
Para escrever este artigo, assisti ao episódio “A Solstice Carol – Mudança de Vida” (3.09), o único da série que aborda o Solstício, época que hoje chamamos de Natal. Coisa mais gostosa pra se assistir com a proximidade das festividades! Pena que XWP não teve mais episódios com essa temática.
Episódio escrito por Chris Manheim com uma sensibilidade incrível, que passa batida para quem não é xenite e vê a série apenas como um show cru de porradas e apologias que desvirtuam. Foi ao ar pela primeira vez em 9 de dezembro de 1995, pegando a Season de episódios temáticos que os seriados reservam para seus fãs.
No enredo, Xena e Gabrielle tentam convencer o coração-de-pedra Rei Silvus a não despejar as crianças de um orfanato à meia-noite colando com o Solstício. Para isso, a dupla conta com a ajuda de um escrivão do rei, Senticles, velho fabricante de brinquedos, para colocar algum calor na alma do homem que vive amargurado há 30 anos, quando, numa noite de Solstício, sua esposa, a rainha, o abandonou e nunca mais foi vista.
Temos comédia? Temos. Mas a todo momento eu me pegava com uma coceirinha no olho… Gabrielle está incrivelmente meiga nesse episódio!! Chega a pagar 35 dinares por um burro, a quem chama de Tobias, que estava prestes a ser mandado pro curtume na véspera de Solstício. E Xena, hilária em suas fantasias de Clotho e Laquesis, os Destinos do Passado e do Presente, tentando convencer Silvus a ter mais coração pelas coisas.
Que aperto no coração me deu ao ver, num cenário onde, à luz de velas, um grupinho de órfãos canta (versão do USA Channel):
“Estrelas noturnas
Um espetáculo nos céus
Nesta noite iluminada
Castanhas quentes
A lareira incendiando
Nesta noite iluminada
A neve tão branca
Apresenta o inverno noturno
Nesta noite iluminada
Uma noite tranqüila
Nossa canção tão suave
Traz a esperança
Nesta longa noite do ano
Tempo para admirar
Tempo para animar
A maior noite de todas
O céu pode recuperar o amor
E todos nós brilharemos”
E o carinho de Gabrielle por Tobias? Vi-me refletido nela, quando eu era guri eu sempre dava um jeito de surrupiar pra dentro de casa algum filhote de gato ou cachorro que eu via perdido na rua, adotava mesmo! Minha mãe enlouquecia, mas animais sempre foram meu xodó, inspiram em mim um enorme afeto, e Gabrielle, com seus olhinhos brilhando e assoviando para Tobias obedecê-la, me comoveu ao dizer: “Igual ao Argo!”
Diante dos órfãos sentadinhos diante dela, Gabrielle diz umas palavras muito bonitas:
“E a partir daquele dia, homenageamos e celebramos como a época em que renascem nossos desejos e sonhos, um tempo pra se reunir com alegria e paz. É o dia mais curto do ano, e a noite mais longa. Mas nessa noite especial, uma nova luz, uma nova chance nasce pra todos. É uma época de milagres e de boa vontade pra com os outros. Por isso o Solstício de Inverno é tão importante, e toca a todos tão profundamente.”
Sentícles aparece como a personificação da pessoa com medo de viver uma vida desejada por causa de repressão. No caso, Silvus o fazia submisso das leis duras da coroa, que dava ordem de prisão a qualquer pessoa que demonstrasse ser adepta das tradições do Solstício. Mas Gabrielle convence o velho fabricante de brinquedos a presentear os órfãos, e, para proteger sua identidade, chega a fantasiá-lo com uma barba branca e uma roupa vermelha!! Reflexo bonito de nosso querido São Nicolau!
A cena de luta no clímax do episódio é divertidíssima! Xena, Gabrielle, Senticles, Silvus e as crianças enfrentando os soldados do rei com… brinquedos!! Gabrielle no bambolê! As crianças com catapultas de tortas! Xena e as meias da lareira, e depois com o boneco-marionete do Hércules! E, pra encerrar, uma linda cena de guerra de travesseiros, onde as penas voam como flocos de neve, numa perfeita representação do Natal!
Por fim, Silvus se deixa tocar pelo espírito do Solstício, ao ver que a misteriosa mulher encapuzada à sua frente não é Atropos, o Destino do Futuro, mas sim sua esposa, que era a dona do orfanato. E ele descobre que pode ser um homem melhor para seu povo.
Tocante a cena de Xena entregando a ovelhinha de madeira a Gabrielle, e Gaby dizendo: “Eu não tenho um presente pra você…” E Xena: “Gabrielle, VOCÊ é o meu presente.” *-*
Já na estrada, Gabrielle oferece Tobias para um casal com um bebê, como um presente de Solstício para o pequenino. “Que Deus sempre sorria por você, por sua bondade.” – diz a mulher, enquanto uma luz dourada ilumina a testa do bebezinho em seu colo.
Um episódio que tem de tudo: comédia, drama, Xena e suas habilidades de luta, arremesso de chakram único (!), Gabrielle e suas meiguices, o carinho entre Xena e Gabrielle, e aquela característica boa própria dos episódios das temporadas 1 e 2: uma moral da história.
Aqui me despeço de vocês, amigos xenites! Vou-me embora escrever minha carta pro Papai Noel! Se eu acredito nele? Ora, se eu não acreditar numa coisa tão boa quanto essa, do que vale acreditar em todo o resto na vida?
Boas festas procêis! Uma gorda ceia, compartilhada com os seus amores, família e amigos. Que a troca de presentes inspire vocês em se doarem por quem se ama, mesmo que não se esteja fisicamente próximo, e perceber que nessa data mágica qualquer palavra desperta um calorzinho de lareira no coração de qualquer um!!
E que a estrela que aparece vívida no céu ao final deste episódio brilhe sobre todos nós nesse Natal!