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8 - 11 minutes readSobre o reboot de Xena e a necessidade de se aceitar a mudança.

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ou: “Mimimi, não é a Lucy Lawless”.

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Antes de mais nada quero expressar que esse é um mero texto de opinião pessoal. Minha intenção não é falar verdades e muito menos ser dona delas. Possuir verdades às vezes é exaustivo e desgastante, portanto prefiro mantê-la relativa.

Muito bem, o que sou eu enquanto xenite?

Assisti a série esporadicamente enquanto criança, porque minha mãe assistia. Não entendia na época a proposta da série, portanto não prestava muita atenção. Só fui voltar verdadeira atenção em 2006, quando a Rede Record passou a exibir, e uma amiga diariamente chegava na escola dizendo que queria que a manhã passasse rápido pra poder chegar em casa e ver Xena logo. Resolvi ver qual era a dessa série, e amei.

Xena é aquele tipo de série complicada. Ou você ama logo de cara ou você odeia porque acha a coisa mais trash do mundo, especialmente se pegar do início. Talvez “odeia” seja uma palavra forte, mas fato é que não são todos que entendem a verdadeira proposta da série. Isso, contudo, não vem ao caso, fica pra um artigo futuro. Limito-me a dizer que entrei tão de cabeça na série, que uns 4 meses depois eu já estava liderando uma equipe de xenites na construção do primeiro site que desenvolvi sobre a série, o antigo Portal Xena Movie.

O site havia nascido originalmente como forma de se juntar à campanha internacional que pedia um filme de Xena para a Universal. Se eu acreditava na possibilidade de um filme na época? Faziam apenas 5 anos que a série havia terminado. As possibilidades eram bem maiores, mas honestamente não era o principal pra mim. O legal foi ter criado junto de outros fãs um enorme acervo de informação. Já naquela época, era imperativo na cabeça dos fãs que

1)um filme de Xena tivesse Lucy Lawless e Renee O’Connor

2)um filme de Xena fosse produzido pelo Robert Tapert e seu circo voador time.

Realmente existiam burburinhos sobre o filme sair na época. Sabemos oficialmente que quem o escreveria seria Katherine Fugate (escritora de When Fates Collide) e ele se iniciaria no Egito. Isso havia sido dito oficialmente por ela mesma e por Tapert. MAS, também existia aquela velha briga pelo osso, no que diz respeito aos direitos da série.

A UNIVERSAL, como todo estúdio na indústria capitalista, tem como mote maior o LUCRO. E em algum momento no decorrer dos anos em que a série foi produzida, o Tapert e sua produtora Renaissance Pictures, fizeram a cagada burrada de perder parte dos direitos da série para a Universal. Na verdade não podemos culpá-los. Talvez houvesse algum impasse maior onde se eles não tivessem feito o que fizessem, Xena sequer continuaria no ar, já que obviamente tudo depende do aval de quem tem mais dinheiro.

Vale lembrar de um aspecto técnico que poucos atentam aqui (prestem atenção nas letras grandes):

Xena foi PRODUZIDA pena Renaissance Pictures.
Ela foi LEVADA AO AR, por sistema Syndication, que basicamente significa que o direito de exibição era vendido à vários CANAIS, que regionalmente, exibiam a série.

De 1995 a 1996, a série foi DISTRIBUÍDA pela MCA.
De 1996 a 1998, foi distribuída pela Universal Television Enterprises.
De 1998 a 2002, foi distribuída pela Studios USA.
De 2002 a 2004, foi distribuída pela Universal Domestic Television.
De 2004 até o tempo presente, está sendo distribuída pela NBC Universal Television.

Por que isso é relevante?
Pra entendermos um pouco do porque a questão de “quem possuía os direitos de Xena” se tornou tão obscura no decorrer dos anos. Ainda que MCA, Universal Enterprises, Studios USA e as outras mencionadas sejam subsidiárias na MESMA UNIVERSAL, na qualidade de subsidiárias, elas tem pessoas jurídicas diferentes e executivos diferentes por trás de suas mesas, cada um com interesses próprios.

Em algum momento dessa salada toda, alguma assinatura em algum documento qualquer, fez com que por muitos anos não se soubesse claramente “DE QUEM” Xena era legalmente, e isso travou qualquer tentativa de produção, seja de um filme, de uma continuação da série ou de um reboot.

Por volta de 2008 ficamos sabendo que Robert Tapert até tinha conseguido o aval para a produção de um filme, mas com um orçamento limitadíssimo, e portanto, recusou.

Hoje, em 2016, sabemos que algum milagre desemaranhou as questões legais e um REBOOT da série foi encomendado pela atual distribuidora, NBC Universal Television.

Novamente, por que isso é relevante? Porque foi tudo isso que gerou aquela quantidade enorme de “quases” que geraram frustrações nos fãs através dos anos, e que basicamente eliminaram a chance de termos uma produção de Xena – seja filme ou série- mais próxima do que era a antiga Xena.

É claro, e eu como fã entendo perfeitamente, que o ideal para nós seria aquela produção épica que contemplaria uma Gabrielle enlutada viajando para a terra dos faraós, lutando, e trazendo Xena de volta à vida para lutar com ela. O ideal para nós, seria ver as atrizes originais interpretando as velhas personagens. O ideal para nós, seria que Robert Tapert botasse a mão na massa pessoalmente, pra não correr o risco do bolo desandar.

Mas, vamos ser realistas por um momento. TUDO gira em torno de dinheiro. Nenhum estúdio faz uma produção que demanda milhões por caridade aos espectadores. Do ponto de vista industrial, essa nossa Xena Warrior Princess, a partir de certo momento (eu me arriscaria dizer que a partir de 2007, 2008) deixou de ser viável e vendável. A geração de consumo de mídia mudou. O estilo cinematográfico mudou. A economia americana mudou imensamente. Tudo mudou. O consumidor de cinema e televisão daquela época nunca pegaria o fio da meada da produção original, porque simplesmente – e estamos falando aqui da grande massa – jamais se daria ao trabalho de assistir uma produção de 1995 taxada por muita gente – novamente, que não entende a proposta da série – como trash. Não adianta muita gente bater o pé e dizer que Xena é uma série maravilhosa e perfeita. Maravilhosa ela é, mas está longe de ser perfeita. Honestamente eu não tenho paciência pra assistir a primeira temporada inteira hoje em dia. E querendo ou não, o apelo que trouxe fãs novos pra série após 2001, foi, em sua grande parte, o subtexto homoafetivo. Sem isso, a série teria sua audiência reduzida drasticamente hoje.

E então chegamos ao tempo presente:
Algum milagre aconteceu nos escritórios da Universal e a NBC resolveu dar o “pode” à Robert Tapert e encomendar um roteiro. Muito que bem. Xena reviverá (no sentido metafórico), viva!

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O que vemos? Uma enxurrada de fãs furiosos, porque a produção não será do jeito que eles queriam. GENTE, mas isso era óbvio desde o começo, e eu sei que serei aqui apedrejada por muitos por pontuar o óbvio. Sabe aquelas declarações de Lucy Lawless do tipo “Xena? Eu adoraria fazer novamente!”? A maioria delas é porque ela tá sendo esperta e não quer desapontar sua base de fãs (que francamente, seguem ela até o inferno e ela sabe disso). Na realidade é bem visível que ela simplesmente não teria saco pra fazer a série novamente, e ela mesma, já disse isso de um jeito sutil. A vida da mulher é outra. Ela tem quase 50 anos, está engajada com Green Peace e outros projetos, está podre de rica, tem dois filhos adolescentes pra botar juízo. A última coisa que uma senhora de quase 50 anos gostaria de fazer agora é voltar pra uma academia pra fazer um treinamento PESADÍSSIMO a fim de ganhar músculos e após isso se submeter a uma rotina de trabalho de 14 a 16 horas diárias debaixo de sol, chuva e vento. Ela já odiava isso quando era Xena. Odiaria muito mais agora. Vocês conhecem senhoras de 50 anos? Certamente que sim. Todos sabem que por mais que se envelheça bem, a idade traz limitações, dores, etc. E não adianta me xingar, bater o pé, espernear e chorar, Lucy Lawless envelheceu e esse é um fato que não pode ser mudado por toda maquiagem e ginco biloba do mundo. No que diz respeito à Renee O’Connor não é muito diferente. Ela está na estrada pros 50 igualmente. Ainda que TALVEZ tenha mais disposição física por causa de quantidades massivas de yoga, pilates e tudo mais, TAMBÉM não teria disposição física pra ficar dando chutes giratórios 14 horas ao dia. O estilo de produções em que as duas se envolvem atualmente é MUITO diferente e condizente inclusive com a maturidade pessoal de cada uma. Encarem: Elas estão em outra e tem outras prioridades na vida. É triste? É. Mas é a vida.

E agora?

E agora que nós temos que ter noção de que não adianta fazer uma cruzada CONTRA a nova produção, espernear, xingar muito no twitter ou ficar lamuriando eternamente.

Obviamente, eu como fã que se dedicou a gerenciar dois sites da série no decorrer de 10 anos, também temo que a nova produção saia uma grandíssima porcaria. É um risco que corremos, seja por escalarem duas atrizes com cara de parede bege, seja por que o Marxuach (novo escritor da franquia) já deixou claro em sua entrevista que VAI mexer em alguns aspectos do canon da história, seja porque, sabemos que ainda que saia uma série que eles consigam nos vender (no sentido de satisfazer), essa série lutará anualmente, ou ainda semestralmente contra o risco de cancelamento, porque simplesmente é o que acontece com TODAS as séries de estúdios populares hoje em dia.

As possíveis frustrações são incontáveis. Mas botem o pé no chão e percebam que, não importa o tamanho da caca que façam, nós temos seis temporadas de Xena que para nós são oficiais, e ninguém pode mexer nelas ou nas memórias que elas nos deram. O que vier daqui em diante é lucro. Se vier algo ruim, basta não assistir e desconsiderar como canon. Fazendo um reality check, não vai mudar nada na vida de ninguém se o Marxuach resolver botar Xena numa armadura estilo Brienne de Tarth. Por favor, não se tornem fãs como aqueles fãs de Doctor Who que amaldiçoam e menosprezam a série nova e todos que a assistem, porque ainda estão presos na série de 1963-1989. Eles são chatos.

Meu tom parece bastante pessimista até aqui, nas na realidade eu me sinto até otimista sobre esse reboot. O que sabemos até agora é que será de fato um reboot, não será com as atrizes velhas antigas e quem a intenção de Marxuach é transformar Xena num ícone eterno, maior do que a própria série. Algo na proporção do que James Bond, Doctor Who ou heróis de quadrinhos se tornaram. E que a série – obviamente por questões de dinheiro – não está sendo pensada apenas para o bel prazer dos fãs antigos e sim para CONQUISTAR toda uma nova multidão de fãs. Eles querem fazer uma personagem forte e cativante, ao que eles compararam com a Katniss de Hunger Games. Se ele vai conseguir, ainda é um grande mistério. Nem mesmo sabemos por certo SE a série realmente será produzida porque primeiro é necessário que:

  1. Javier Grillo-Marxuach termine de escrever o roteiro do piloto (o roteiro parcial já foi aprovado por Tapert)
  2. O roteiro seja aprovado pela NBC Universal.
  3. A Universal  decida se quer encomendar o piloto, ou a temporada inteira logo de cara.

Mas por ora vamos parar os resmungos e torcer pra que essas etapas sejam vencidas e algo bom saia delas. Se sair uma porcaria, a gente reclama por uma semana, não assiste, e continua vivendo. Combinado? 🙂

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