Gabrielle “DEDOS LEVES” de Potédia.
Mára Núbia da Silva
O Episódio The Royal Couple of Thieves nos apresenta Autolicos, o rei dos ladrões num visual que lembra muito o alegre galanteador fora-da-lei das florestas inglesas, tendo sido recomendado por Hércules como o indicado para tão delicado trabalho . Desde o inicio Autolicos se mostra um atleta e competente manejador de cordas, não apresentando nenhum receio de Xena, inclusive declarando não aceitar sua postura de mercenária e mais adiante lhe rende elogio quanto ao ser um diamante que Hércules, podendo ter a mulher que desejasse, deixara passar.
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Na busca do disfarce ideal para a empreitada, Autolicos percebe a incrível inocência de Gabrielle ao admirar uma jóia que o mesmo teria ganho de uma princesa e durante o episódio inteiro ele procura atuar num jogo de assediar romanticamente a princesa guerreira. Xena enfatiza tratar-se de um resgate para o qual precisaria da ajuda dele, o que mostra a incrível habilidade de nossa heroína em saber de sua capacidade, mas também das próprias limitações .
Começando aí o festival de contradições.
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Um ladrão contratado para roubar um artefato que fora roubado de um povo amigo da princesa guerreira. Povo pacífico, cujo artefato tem importância fundamental em sua identidade, mas é a mais poderosa arma que já existiu.
Esta arma é disputada por vários senhores da guerra e mercenários em um leilão realizado por Malthus em sua ilha e para evitar
que tal artefato caia em mãos perigosas a princesa guerreira se expõe em um disfarce pra lá de minúsculo , quando ela e Autolicos embarcam no navio-transporte disfarçados como um assassino amplamente conhecido e sua concumbina.
Neste papel o rei dos ladrões coloca a princesa guerreira em trajes reveladores e comportamento submisso, um tanto a revelia , o que rende cenas hilárias para nós que sabemos a rnatureza da relação dos dois.
Na ilha várias peripécias eatribulações são enfrentadas por nossos amigos, e a arma que seria leiloada é encontrada por eles em seu próprio quarto após seu anfitrião ter sido assassinado, momento em que Xena descobre a inscrição no baú : “Não tema a verdade, encare-a. Pois afastar-se da verdade é a morte.”Quem se afasta da verdade …
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Xena revela a gratidão aos seus novos amigos e recebendo também a confissão do rei dos ladrões sobre seu passado para sobreviver às perdas de entes queridos resolvem continuar na missão. São capturados e ameaçados, inclusive com a presença do próprio Sinteres de quem Autolicos roubara a identidade, grande conhecedor dos “pontos de pressão” e por fim nossos amigos são utilizados como alvo em uma demonstração do funcionamento e eficácia da poderosa arma dentro do baú. Enfim, postos em contato com o baú, ao abrir o mesmo sai uma luz e poderíamos entender que por radiação desintegra as pessoas, mas não todas as pessoas ao redor e sim as que se afastarem dele fazendo jus à inscrição. (Um precursor do sensor de movimentos??????)
- uma discreta boa ação…
Somos surpreendidos quando terminada a luminosidade nos deparamos com inscrições em pedra com mandamentos como “não matarás” , “não roubarás”… ao que Autolicos manifesta ser impossível viver sob tais normas.
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Quando a arca é devolvida ao povo amigo de Xena o rei dos ladrões disfarçadamente deixa sua recompensa na carroça e parte, sendo tal ato observado e comentado apenas por nossas duas amigas e a princesa das amazonas menciona que se soubesse que ele era assim [tão legal] não teria ficado com o anel
Gabrielle era uma grande contadora de histórias e sua habilidade de traçar um enredo com muita convicção livrou-a de grande apuro quando foi capturada pelo ciclope no primeiro episódio e no mesmo episódio livrou Xena de ser lapidada (morta por apedrejamento). Durante toda a série a capacidade Barda de Gabrielle tem se manifestado auxiliando e contrapondo à praticidade de Xena, como um caminho alternativo para encontrar um equilíbrio entre o que parecia o caminho natural, tradicional e o justo, no entanto no episódio 17 da primeira temporada, nos deparamos com uma habilidade que não julgaríamos digna de uma princesa e muito menos de nossa querida e ingênua camponesa de Potédia: Gabrielle tem a habilidade de furtar e sem que Xena perceba, sem ninguém mais perceba, Gabrielle furta o anel de Autolicos, o rei dos ladrões e acredita seu gesto como justificado, lógico, engraçado e adequado.
Não era o caso de falsear uma entrada na Academia, furtar uma chave de calabouço ou uma arma numa tentativa de salvamento, mas talvez um simples e típico caso do faça o que digo mas não faça o que faço .
Gabrielle se deu o direito de Julgar o seu companheiro nesta aventura, o direito de ser Juri, Juiz e Oficial de Justiça, Executora da sentença num julgamento das atitudes de Autólicos.
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Fica a questão sobre onde, como e quando a jovem camponesa adquiriu tal habilidade, pois esta dualidade moral sobre ser bom ou mau, com uma ética circunstancial e totalmente própria que abrange todo espaço de variações entre estes dois extremos , acompanha a série inteira.
3 Comments
Luiz Carlos
Creio que Gabrielle nao quis passar a ideia de afanar algo e sim mostrar a Xena e a si mesmo que tambem tinha sua habilidade e esperteza,nao de modo pejorativo.
Se uma coisa que pude captar da serie é que é passada a mensagem que uma mulher pode fazer as mesmas coisas que um homem faz com desenvoltura e sucesso,desde epocas remotas. O episodio nao começa com o Titulo ‘Rei dos Ladrões?’ Nossas heroinas eram boas,ate nisto e mereciam um adjetivo,contudo era apenas uma competiçao projetada,como ficou notorio,desde a conversa inicial que os 3 tiveram,bem no começo.
Mára
Santo Freud Batman… Gostei muito da tua análise Luiz sobre o fazer o que o homem faz e muito bem, mas ainda acho que não tira a questão da “dupla moral” e sobre ela ter “JULGADO” o Auto, mas vou repensar sob esta nova perspectiva. Bjo
Gabriel Amorim
“O que Gabrielle quer, Gabrielle consegue” não é não, Luiz? kkkkkkk