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4 - 6 minutes readHonra: o Amor que somente os Heróis entendem

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CHAPO

Deve tanto a alguém a ponto de jogar todos esses anos fora?

Assim perguntou Gabrielle quando Xena rumava para China compensar sua dívida com Lao Ma. A mulher que tanto mudou sua vida e seus valores. Talvez mais até do que Gabrielle proporcionalmente falando.

Não importava que Xena fosse matar o filho de Lao Ma, ou se matar era de fato a coisa certa a ser feita. Seu código de honra era o que lhe ansiava por isso.

Não se trata de gratidão somente, mas de justiça na visão do herói. Trata-se de trazer de volta o equilíbrio ao reino de uma pessoa que tanto lutou por isso e que, por um filho sedento por terror, morria a cada dia.

Xena amou Lao Ma, não importa como acreditemos que foi esse amor, houve amor. No primeiro instante, no primeiro olhar, na primeira tentativa frustrada de assassinato.

“Deixe-se invadir de desejo e sinta a ilusão

Esvazie-se do desejo e compreenda o grande mistério das coisas”

Lao Ma

A serenidade de Lao Ma era evidente. Mas também sua forma de amar. Sua percepção para a capacidade que Xena tinha de ser uma grande pessoa tomava equilíbrio com a capacidade que seu filho, o dragão verde, teve de enxergar que o lado mal de Xena também tinha vasto poder e muito lhe ensinaria.

Ming Tien não hesitou em acompanhar Xena em seu cavalo, assim como Gabrielle também o fez um dia. E desprezou seu pai, Ming Tsu, por suas lágrimas de amor. Não havia honra naquilo. No sacrifício de seus ideais pela vida de uma criança que poderia ser substituída, no amor por seu filho, por seu herdeiro. Seu pai era um hipócrita e Xena era sua heroína. E essa era a dívida de Ming Tien, mostrar que o discípulo superara o mestre.

Xena está camuflada em lama e flashbacks de Gabrielle lhe ensinando as lições para acabar com o ciclo de ódio através do amor trazem relutância à guerreira sobre o correto e errado. Matar Ming Tien não iria contra seus princípios?

Entendam, isso acontece na terceira temporada, antes de Eli e Krishna e as profundas lições de amor. E pela honra, Xena passaria por cima de tudo que aprendeu. Pela dívida que possuía com Lao Ma, sacrificaria tudo por uma lição maior que tardou a compreender. Ela mataria um tirano no poder e daria a liberdade de escolha para um povo. Xena, em partes, mataria aquilo que vivia no homem que mais odiava no mundo e que inspirava tantos outros. Ela mataria os ideais de César!

Eis que ela se depara com a pessoa que mais ama defendendo a vida de apenas um homem, defendendo a reabilitação assassina de Xena. Em Gabrielle faltava o mais essencial valor em um guerreiro e para aquilo que ela defendeu na China. Faltava a Honra. Porque ela não sabia de toda história até então (final de Debt I). Ela reverenciava a vida, mas esquecia que o bem maior também exigia sacrifícios. Ela não defendia ideais, ela defendia idéias.

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Essas idéias foram as que traíram Xena, não Gabrielle. Por isso não houve ódio, por isso Xena queria evitar a presença da amiga no reino Ming. Xena estava no CAMINHO do assassinato de um tirano que fez um reino de valores aprendidos com a guerreira. Ela mataria todos os seus propósitos para assassinar o resultado de seus erros perpetuados, multiplicados e vigorados em um povo oprimido que paga pela vingança de uma única mulher em uma única cruz que inspirou uma criança a crescer governando com terror, a única forma de educar a escória.

“O mundo inteiro está movido por uma vontade cega e desumana

Para transcender as limitações desse mundo, precisa parar de querer, parar de desejar, parar de odiar”

Lao Ma

Eis uma das mais difíceis lições, exatamente a que Xena tardou a entender. E aquela que também a salvou.

Lao Ma não gostava de matar, talvez nunca tenha matado alguém diretamente. Teve três filhos dos quais teve de abrir mão, um deles foi o responsável direto por sua morte. E ela nunca o odiou. Seus próprios valores foram incapazes de salvá-la e também salvar seus sonhos de paz para o reino de Chin.

Para usar os poderes ao final de Debt II, Xena precisou esvaziar a mente dos desejos e do ódio. Lao Ma não fez isso antes de morrer. Em seus últimos momentos nada de que pregou importava mais. Ela jamais poderia matar seu próprio filho, ainda que custasse a miséria de seu povo. Era um sacrifício muito grande para uma mãe. Sacrifício esse que Xena obrigou Gabrielle a fazer no episódio anterior (Gabrielle’s Hope) e que talvez tenha a feito mentir sobre ter matado Ming Tien. Ela preferiu evitar enfrentar a dor de ter matado o filho de alguém que ama e suportar as reflexões filosóficas de Gabrielle, aquela que jamais entendeu Lao Ma por completo e todo amor e honra que esta ensinou à Xena.

Lao Ma sabia da profunda capacidade que Xena tinha de ser fiel e seu ultimo pedido foi também uma mensagem. Faça o que eu não fui capaz de fazer. Foi um pedido, não uma cobrança. Pois para Lao Ma, não havia dívida, Xena foi aquela que trouxe um sorriso novamente a mestre, foi aquela que trouxe também a esperança de um reino de paz, mesmo que através da guerra.

Lao Ma ensinou a Xena que grande sabedoria é compartilhada, mas é desenvolvida dentro de si, conquistando a si mesmo. Lao Ma ensinou Xena a não compartilhar de seus segredos com aqueles que amam, porque nem todos entenderão, porque nem todos possuem o mesmo caminho. O caminho da auto-reflexão. E por fim ensinou que todo sacrifício é válido, ainda que tardio, ainda que assassino. Tudo que cercava ela e Xena nada mais era do que uma dívida de amor. Pois a história delas não era uma história de ódio, mas uma história de Honra.

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One Comment

  • Mára

    Que lindo artigo! Esta visão que Gabrielle defendia idéias não ideais foi soberba. Não sei se houve amor desde o primeiro momento, mas acredito que quando houve estabeleceu um vinculo inquebrantável de fé. A relação que fazes com ter obrigado Gabrielle a matar seu filho , ter ido matar o fiho de Lao Ma e ela não ter conseguido fazer isso foi muito bem elaborada. Parabéns. Ler com mais vagar estes artigos tem sido um agradável aprendizado de ângulos novos. Obrigada.